“Les jours de gloire est’arrivé”, pela segunda vez em sua história, mas até a múmia de Lênin, que repousa no mausoléu da Praça Vermelha, sabe que a campeã não jogou bem.
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Só o futebol e seus paradoxos admitem o sucesso de quem jogou um tímido primeiro tempo – e dele saiu com a vitória por 2 a 1. Dobrou-a no segundo tempo, com chutes cirúrgicos, contra o desconsolado goleiro croata. 4 a 2 é placar que não deixa margem a dúvidas: a França é a legítima bicampeã do mundo, e assim deve ser reconhecida, apesar do fato de que seu craque, no primeiro tempo, não se chamou Grizmann, Pogba ou Mbappé. O nome era Néstor Pitana, árbitro argentino – “autor” de uma falta e um pênalti inexistentes, este último com “sociedade” do VAR.
Ouvi da própria múmia de Lênin quais os grandes beneficiários desta bela Copa: seu colega Vladimir Putin, o “czar” incontestável dessa nova e revitalizada Rússia, e o presidente Emmanuel Macron, o “outsider” que venceu as eleições francesas e agora se revelou um grande “pé-quente”.
E qual o maior prejudicado? Neymar. O craque brasileiro, coitado, deixou a Copa com o estigma de “farsante”, “fingido”, “embusteiro”, “cai-cai”. Protagonista da maior transação econômica do futebol – quase R$ 1 bilhão, pagos pelo PSG ao Barca – Neymar saiu reduzido a “impostor” e “falsário”.
Mestre em destruir reputações e criar “narrativas”, a múmia de Lênin foi o único grande líder a sair em defesa do craque brasileiro:
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– Só existe uma maneira do Neymar permanecer em pé num campo de futebol. É a arbitragem dirigir sua ira contra os adeptos do “anti-jogo”.
– Sabem quantas faltas levou Neymar nesta Copa? 34. Em cinco partidas, mais ou menos sete por jogo. Só o time da Suíça parou-o com 10 faltas. Como o querem de pé?
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Que Deus ajude Neymar a recuperar sua carreira, exatamente onde menos vão respeitá-lo. Na França, onde, inflados pelo segundo mundial, haverão de sagrar Mbappé como o novo rei do futebol, comparando-o com ninguém menos que Pelé, dois gols numa final, aos 17 anos.
Glória à nova campeã, parabéns. Não é sua culpa que o futebol tenha mudado tanto: prevalece hoje a “marcação”, o desarme, o contra-ataque, as “linhas defensivas de quatro e cinco”, o time todo “lá atrás” para “jogar por uma bola”.
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A França, campeã mundial do Iluminismo, do lema revolucionário “liberté, egalité, fraternité”, pátria dos direitos do mais genuíno humanismo, merece dançar e festejar o triunfo.