Em tempos de “Horário Gratuito” e debates sensaborões, vale a pena lembrar os tempos em que os velhos partidos viviam em contato carnal com o eleitorado – e seus caciques reuniam-se em bares e restaurantes como o “Estrela”, no entorno da Praça XV.       

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O velho PSD, por exemplo, embalou a candidatura essencialmente política de Ivo Silveira, contra o “técnico” Alcides Abreu, a partir de um levante comandado pelos políticos lageanos, que conheciam como ninguém a técnica dos assados – sem desdenhar dos pratos exóticos do baiano Manoel Tourinho, dono do Restaurante Estrela, como o vatapá, a rabada, o caruru, o chinchim de galinha e a dobradinha. No Vale do Rio do Peixe, Joaçaba e região, o prato era o “brodo”, um “consommé” caseiro, feito de galinha caipira, caldo engrossado pelo queijo colonial e  servido em xícaras, na companhia do “pão da casa”. O sopão gordo e bem fornido era marca registrada do PSD de Joaçaba, terra do lendário deputado Nelson Pedrini. O “brodo” recordista juntou 58 galinhas, 20 garrafões de vinho, 100 litros de cachaça e dezenas de quilos de pão e queijo ralado.

Na região serrana, prevalecia o churrasco de gado, costela assada no fogo-de-chão. Em São José do Cerrito, encerrados os discursos, o dono da bodega esperava a ordem do deputado-candidato para servir aperitivos “leves” para as mulheres – sucos e refris – e  “bomba vermelha” para os homens: cachaça misturada com groselha. Horror agridoce que deixava a parceirada grogue e nauseada.       

As adegas da campanha eram igualmente  sortidas. Vinho da região e cervejada para os machos. “Gasosas” para as senhoras. Como contribuição “local”,  capilés alcoólicos e  “graspas”, a cachaça destilada da uva. Nas regiões de colonização alemã, “salchichon” e “kassler”, costeleta de porco, com chucrute e batatas.                      

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No sul, ao som das “tarantellas”, nhoque e macarronada. Nessas regiões italianas, era praxe a “passarinhada”, prato exterminador de passarinhos: milhares de tico-ticos, pombas, bem-te-vis e rolinhas eram dizimados e assados no espeto, servidos com polenta, radiche e vinho tinto.   Na falta de um Ibama, a passarinhada sofria. Mas os eleitores eram fiéis e os candidatos honestos. Abatiam “rolinhas”, mas não atacavam o erário.       

 

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