Tenho saudade dos tempos em que um ilhéu chegava ao Rio de Janeiro e a ele perguntavam:

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– Donde você é?

– De Florianópolis.

E eles não sabiam onde ficava essa “Florianópis”. Aliás, não sabiam sequer pronunciar o hexassílabo ou se a Ilha ficava nos mares do Brasil ou do mar Egeu.

Hoje, Floripa está em todos os cadernos de turismo e em todos os portfólios publicitários do Universo. Faz pouco tempo, a “Time” e a “Newsweek” derramaram uma ode e um oratório sobre as excelências da Ilha – com direito a foto, mapa e um autêntico soneto de louvação, que considerava nossa formosura “uma Ilha com encanto de sotaque europeu”.

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Engraçado. O que é bonito, “é europeu”. O que não presta, é brasileiro mesmo.

Não bastassem esses confetes do cosmopolitismo blasé, a Ilha também foi enaltecida pela imprensa do centro do país, que descobriu o “refúgio”. Com uma dica:

– A melhor época para se visitar Floripa é na meia-estação. Momento de aproveitar a temperatura amena e explorar a face menos conhecida da Ilha. Pouca gente sabe, mas a Lagoa da Conceição guarda segredos como a Costa da Lagoa, onde a urbanização ainda não chegou.

Ai, meus sais! Querem profanar nosso tabernáculo exatamente no outono, nosso momento mais belo e intimista, quando o lume da estação adquire aquele inefável tom do impressionismo de Monet em seu quadro Impression, Soleil Levant.

***

Será que não podem deixar a Ilha só para nós, por nativa e honesta homenagem ao nosso usucapião?

Será que vamos ter que aturar em nossa camara nupciale o testemunho de tantos estranhos infiltrados como voyeurs?

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Ciúme é coisa séria, reconheço. Por isso, afago as dunas da Lagoa, abraço-me às espumas flutuantes da praia Mole. Beijo – como fazia o saudoso Papa João Paulo II – o chão de Jurerê. Aninho-me no regaço da Joaquina. Aconchego-me ao colo da Lagoinha. Pratico todos os sacrilégios da carne, logo ali na praia do Santinho, não respeito nem o santo!

Quero para ti, Floripa, aquela paz de criança dormindo, de que nos fala Dolores Duran.

Quero só gente que saiba o que é “djá hoch“, “istepô” e “inticá”, esses falares dos amarelos, sem que seus interlocutores precisem de um intensivão de manezês no Berlitz das línguas modernas.