Dependendo do ponto de vista de cada brasileiro, o Supremo Tribunal Federal divide-se, nesta tarde, entre vilões e heróis.
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Os eleitores do ex-presidente Lula consideram-no um “perseguido político” e colarão o labéu de “vilões” na meia dúzia de ministros que negar o “habeas-corpus” requerido pelo petista.
Os mesmos personagens serão declarados “heróis” pelos que vêem no apelo apenas um último recurso de alguém condenado em segunda instância à pena privativa de liberdade.
Não deveria ser assim, com essa carga de maniqueísmo.
Num país em que as leis deixassem de integrar o arcabouço legal do chamado Direito positivo, para se transformar em arma política, a administração da justiça haveria de se tornar inexequível – e, com isso, a própria democracia estaria condenada à falência.
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Não são as leis que se transformaram em arma política; são os políticos que delas fizeram letra morta e agora reclamam da sua aplicação.
Vive-se hoje a chamada “judicialização” da política. Tantos foram os “malfeitos” e os “maus-passos” dos políticos, que o judiciário decidiu governar – e o pior, sem ter sido votado para cumprir tal mandato.
Com a erupção da “Lava-Jato”, a porção saudável desta Justiça capturou no ar a inevitável náusea que se instalou no peito do povo brasileiro. Um sentimento de repulsa, repugnância, nojo, enjoo, engulho, enfaro, asco.
Chegou ao olfato da Justiça essa aversão ao pútrido, ao fedorento, ao mefítico, ao fedegoso, ou, como bem diria um Mané, ao “catinguento”.
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Há corruptos e corruptores na cadeia. E há centenas de políticos – de todos os partidos – sendo investigados. O templo dos vendilhões ruiu em Brasília. E as instituições estão funcionando no módulo de segurança, como o veículo que precisa trocar os pneus em movimento, ao longo da jornada.
O Brasil anseia pelo dia em que o sol raiará sem novos escândalos e a pátria poderá, afinal, respirar sem a ajuda de aparelhos, como nessa interminável temporada de caça aos corruptos.
***
Tinha razão Tom Jobim: o Brasil não é mesmo para principiantes. Aqui, os réus acham que podem afrontar as cortes e reescrever a lei.
Aqui, até os velhos ditados são contrariados e perdem o sentido, diante de um país surreal.
Dos males, o pior.
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