Há um ponto em algum lugar do Caribe conhecido como Triângulo das Bermudas – um buraco negro por onde desaparecem, misteriosamente, aviões e veleiros. Seria um “ponto de atração magnética”, sorvedouro de natureza inexplicável, cuja fama boia sobre o mar azul e sobrevive como “história de pescador”. O mesmo e inexplicável triângulo parece demarcar o Norte, o Sul e o Leste de Santa Catarina, as bases entre Araranguá e Floripa, o vértice sobre Joinville e o Alto Vale do Itajaí. Neste “Triângulo das Águas”, Santa Catarina se afoga a cada cinco ou dez anos.

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Parece que todos os “facínoras da natureza” se encontram sobre o mapa de Santa Catarina, para o qual convergem as frentes frias e as quentes, as frentes úmidas estacionárias, os ciclones tropicais e até os furacões. E há, ainda, para consumar esse Apocalipse das Águas, uma morfologia geográfica propícia para a formação de nuvens. Montanhas íngremes e grandes vales – configurando formidável berço para abrigar e embalar as tempestades.

A prosa vertiginosa do ex-governador Jorge Lacerda descreveu, certa vez, com sábia maestria, essa “convulsão telúrica” que, apesar de extremamente bela, favorece e estimula a inclemência do clima. Em Floripa – onde desabou a chuva de um mês em um dia – e nos vales de Santa Catarina, onde a chuva é velha algoz, esse mesmo e heróico povo há de repetir 1983 e relançar a economia do Estado, fazendo da catástrofe um incentivo e um fermento.

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Nossa Floripa tão bela amanheceu afogada como uma Iemanjá, desamparada dos seus poderes. Ruas alagadas, rodovias destruídas, pontes arrasadas, bairros e edifícios invadidos pelas águas. A Ilha deixa de ser terra cercada de água por todos os lados para se transformar num mar cruel e inclemente, fabricante de pequenas e grandes tragédias.

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Resta-nos o apelo à fé. Rogar ao Todo Poderoso para acabar com a insânia desta má distribuição de água e sofrimento. Precisa soprar com força e espantar as nuvens para o Oceano – salvando Catarina do “Triângulo das Águas”.

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