O Carná deve funcionar como uma espécie de catarse, de supermercado das boas ilusões, um “tríduo” que inaugura feiras de prazeres e irresponsabilidades. Um pouco de tudo do que precisamos neste momento, enquanto vigora um sol adriático no palco da Ilha mais bela do mundo.
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Será ótimo desligar a “psiquê” deste fatigado universo de pequenas e grandes tragédias que é o Brasil – e hastear no horizonte um pouco da alegria perdida com tantas mazelas políticas. Será bom pensar numa alegoria bem apropriada. A fantasia “Brasil”, talvez. Que se resume em sair por aí de bunda de fora, com um cartaz na mão: “A corrupção é uma erva daninha!”
O Carnaval precisa se transformar num “estado de espírito”, durar o ano inteiro. Três dias, dentre 365, não bastam para passar mercúrio cromo nas feridas do povo e calibrar a paciência para mais uma campanha eleitoral em 2018, que deverá ser “limpinha”, como sempre.
O cidadão não deve esperar que o governo, esse folião falido, patrocine o seu Carnaval. Como toda empresa enxuta, o Carnaval deve ser conduzido pelos seus próprios
interessados, os foliões.
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Convocai vossas costureiras – ó, foliões! Esticai o couro dos vossos tamborins e mandai fazer uma fantasia bem transparente! Muito mais transparente do que todas as administrações públicas. Mas não deixai meia ou cueca carnavalesca ao alcance de certas “autoridades”. Elas adoram misturar purpurina com propina…
A festa de Momo é um daqueles raros momentos em que o governo sempre tem chance de acertar em cheio. É quando ele se ausenta da vida brasileira e o país passa a ser governado por um trio elétrico – formado por Momo, Baco e Bakunin, três anarquistas de respeito.
Uma anarquia organizada. Ou alguém se lembra de ter perdido o desfile de sua escola de Samba por causa de uma greve na ala dos pierrôs ou das baianas?
Uma recusa de trabalho por parte do mestre da bateria ou dos tocadores de cuíca? Uma greve de ônibus? – já são tantas aqui em Floripa, menos no Carnaval!
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É só deixar os carnavalescos governarem que tudo vai melhorar neste país. Afinal, não será o Carnaval a mais perfeita e democrática forma de governo – exatamente por se basear no não-governo?