Antes da urbe desvairada, e da Floripa dos “presuntos” e dos tiroteios, perfumes emanavam das pitangueiras e goiabeiras de Coqueiros, idos dos anos 1960, numa aldeia  ainda romântica, em permanente conjunção com o mar.
No bucolismo felliniano de uma Rimini ilhoa (“Amarcord”), pré-inchaço da urbe desvairada, o ritmo do balneário era o do roçagar das folhas das palmeiras, como se elas fossem lábios alados, sussurrando carinhos, entre o murmúrio do grande canavial e o verde dos butiazeiros. Se, como na “Aquarela” de Ari Barroso, havia “coqueiros dando côco”, estes ficavam ali, nas praias do Continente.  
Entre o verde crespo das goiabeiras, pontificava a carapinha encarnada das pitangueiras , oferecendo sua frutinha vermelha à mordida dos pirralhos. Descoberta uma pitangueira, zás !  A “raça” comia tudo, não sobrava uma baguinha pra contar a história.
Saudade de tomar um banho de mar no Praia Clube; de “espiar” pelas frestas das precárias “casas de banho” – desvendando o mistério das deusas mais cultivadas da Cidade.

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Adolescente em Coqueiros , inebriei-me em “caipiroscas”, enquanto  a atmosfera se impregnava dos sons rebeldes da época – os Beatles, sim, antes de “Sargent’s Pepper Lonely Hearts Band” e antes de Yoko Ono.

Para celebrar os sons e os cheiros da Praia do Meio, havia a prosa de Othon Gama D’Eça, na tapeçaria de “Homens e Algas”:
– A Praia da Saudade é uma tenra, doce curva de areia com duas ou três árvores ramalhudas, tabuleiros de gramas, algumas altas piteiras que em junho se enchem de flores vermelhas e o aranhol das redes por sobre jiraus paralelos de bambus.
– De uma banda corre a estrada, baixa e lisa, de saibro amarelo, margeada de tapumes, cortada por um fio d’água que ora se enruga por sobre seixos, ora escorrega por entre os penachos das canas-do-reino. Da outra banda, o mar azul e luzidio, muito mais polido e azul que o céu, as montanhas além, enchendo as largas distâncias de riscos leves e ondulações macias. 

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Gostaria de reviver esse tempo, debaixo dos coqueirais. Entre pitangas, amores e amoras. Tudo o que desejo hoje aos meus amigos, ilhéus de viva memória, é que todos passem este primeiro domingo de abril ao bom abrigo das suas melhores lembranças. 

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