Nas democracias de fraldas o voto precisa ser entendido como uma espécie de refeição institucional. Só a sua repetição garantirá a consolidação desse ritual que é o próprio penhor da liberdade-cidadã.
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O constrangido Brasil de hoje terá neste domingo uma rara chance de redenção. Por isso, o eleitor não deve boicotar a si mesmo, votando em branco. Ou anulando a sua procuração eleitoral. Ao contrário. Deve exercer o seu direito de influir no saneamento da representação, exatamente neste momento em que a democracia representativa parece fadada ao descrédito.
O eleitor terá a oportunidade de ajustar contas com os maus políticos, reconhecendo os bons. Aquele candidato a presidente (ou aquele governador) que gastou quatro anos produzindo “o nada”, ou, o que é pior, a malfeitoria e o escândalo – pau nele! Aquele deputado que frequentou o guichê dos corruptos e corruptores, empregou os “sobrinhos”, drenou o salário do pessoal do próprio gabinete – enfim, exerceu o mandato com mão de rapina, desempregue-o!
Quando desemprega um impostor, destampa um escândalo ou “cassa” um aproveitador, a ira do eleitor é plenamente justificada. O voto-resposta, assim, não será rude grosseria, mas exaltação da verdade; não será soberba que explode, mas indignação que ilumina; não será raiva cega, mas mera correção eleitoral.
Nesses casos, não comete pecado aquele que se indignar, como pecará o eleitor não se indignando.
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Contudo, não há como negar: o Brasil de hoje vive o seu hospício, uma Torre de Babel ininteligível.
Aqui, o doutor Simão Bacamarte está no poder. É aquele personagem de Machado de Assis que começou internando alguns doidinhos e, aos poucos, acabou internando a cidade inteira. Resultado: um dia acabou ele próprio internado, enquanto o “doido” passava a ser “normal” – e toda a cidade se viu livre do “alienista”, o médico especialista em doenças mentais.
O país está precisando de uma urgente vacina antirrábica e daquele espírito do “homo cordialis”, que, um dia, o historiador Sérgio Buarque de Holanda julgou ser de nacionalidade brasileira.
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