O cordão dos puxa-sacos sempre existiu. Principalmente no mundo untuoso da política. Dar nome de rua, por exemplo. Era uma forma de homenagear algum cartola, sempre que este “batia a caçoleta” e ingressava no mundo dos espíritos.

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Um dia nossa rua principal, a Felipe Schmidt,  chamou-se “Moinhos de Vento”, num tempo (1890) em que a cidade tinha apenas 30.687 habitantes.

Em compensação, os “Tigres” – barris de esgoto bruto – desfilavam pelas ruas à noite, depois de um “toque de recolher” olfatos, clarim que ecoava às oito em ponto.

A “Moinhos de Vento” não durou muito com esse eólio nome. Derrubada a monarquia, coube aos vencedores abrir um cartório para registrar novos “batismos”. A artéria jugular da cidade deixou de ser “do Vento” para se tornar “da República” ou , suprema aberração, “Rua Bela do Senado”.

Com a morte de Felipe Schmidt, em maio de 1930, o coronel duas vezes governador do Estado assumiu a titularidade da rua, rendida à última moda republicana: a homenagem a quem houvesse enfeixado poder por algum tempo.

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A Deodoro, segunda transversal da Felipe, chamava-se Rua do Ouvidor, como a que existia na Capital Federal. Mas esse era o seu único “macaquismo”. Apesar de central, a rua mantinha o seu caráter provinciano, de sítio urbano com feição de rural. As casas ainda eram geminadas e não dispensavam os quintais, “reservas rurais” no meio urbano, povoadas de ovinos, caprinos e crianças.

As famílias moravam em ruas de nomes mais amáveis e naturais, como Rua da Pedreira ou Rua dos Artífices. Os bairros se chamavam Praia de Fora , Bairro da Toca (Prainha) ou Largo da Princesa (Benjamin Constant). A Esteves Júnior nascera Rua Formosa; a Victor Konder era a Rua Mato Grosso e a Mauro Ramos, antes de ser “Avenida”, atendia pelo nome “profissional” de Rua das Olarias.

Até os morros, hoje tomados por uma agressiva alcatéia de bandidos, exibiam nomes bucólicos, como o “Morro do Céu” ou o “Morro da Gasosa”.

A falta de nomes poéticos, ou simplesmente naturais, como “Praia de Fora”, “Rua da Matriz”, “Rua da Tronqueira” ou “Praia do Vai quem Quer”, revela a “dessintonia” dos novos tempos com as raízes da Floripa popular.

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