Será que, numa guerra contra poderoso inimigo externo, o Brasil conseguiria se reconciliar contra uma “potência invasora”?
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Haveria “clima” para um governo de conciliação nacional, acima de todos os azedumes e picuinhas entre governo e oposição, esquerda e direita?
Seria factível, no Brasil, o exemplo de união e heroísmo na resistência ao nazifascismo, protagonizado por Churchill ao comando de um plural Gabinete de Guerra, reunindo inimigos tão empedernidos quanto Conservadores e Trabalhistas?
Não é à toa que a Constituição não escrita da Inglaterra reserva às oposições um papel nobre na vida institucional do país. Não só como garantia de higidez democrática, mas a ela se referindo como “a leal oposição ao governo de Sua Majestade”.
Vimos no recente “O Destino de uma Nação”, de Joe Wright – “Oscar” para Gary Oldman no papel do grande estadista inglês – divergências entre os que queriam a “pax” do nazismo e a têmpera patriótica de Churchill, que dizia “nunca nos renderemos”. Nos Comuns, prevaleceu a união dos Conservatives com o Labour, ou seja, a “leal oposição à Sua Majestade”.
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O Brasil é um país tão diferente que aqui as palavras adquirem inusitados significados em relação à semântica universal. A palavra “oposição”, por exemplo. No mundo inteiro ela designa aquela parte do estrato político que se opõe ao governo. No Brasil, a oposição é tão fluida e mutante – está aí o MDB para provar – que tanto pode estar no “apostolado” como no “lado oposto”.
Há, nestes trópicos caricaturais, uma instituição chamada “base aliada”. Nada mais desafinada do que essa tal base, precariamente unida em torno de uma “carniça”: cargos oferecidos pelo governo, em troca de apoio legislativo. O resultado é bizarro. A cada votação, os descontentes apresentam uma nova “conta”, e deixam os “aliados” na mão. Falta aos parlamentares um senso de pátria e de decência, atributos com os quais certamente rejeitariam o recente e imoral aumento do STF, quatro vezes maior que a inflação do corrente ano.
Se fosse fundar de novo a República, com base neste movediço alicerce de “aliados”, o marechal Deodoro usaria o talão de cheques – nunca uma espada.