Pronto. Faltando um dia para a Copa, não há quem não entenda de futebol.

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Tem até mulher discutindo, com grande conhecimento de causa, a lei do impedimento, uma excrescência que já deveria ter sido abolida. Não há neste mundo tanta lei que “não pegou”? Pois é: a do impedimento deveria ser uma dessas. O belo jogo ficaria muito mais interessante, com mais gols.

Até os intelectuais estão “por dentro”, eles que, segundo Nelson Rodrigues, “nunca bateram um reles lateral”. Jean-Paul Sartre jamais bateu um tiro de meta, ou um “pênalti”, nunca deu um pontapé – mesmo quando foi traído por Simone de Beauvoir. Mas Albert Camus e Vladimir Nabokov foram goleiros, respectivamente do Racing da Argélia e do Dínamo de Moscou.

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No conto, na crônica, no teatro e até na poesia, é bem respeitável o time que bateu a sua bolinha literária. Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, abordou o futebol sob a ótica política e social em “Chapetuba Futebol Clube”. Rubem Fonseca produziu um conto brilhante sobre o assunto em “Feliz Ano Novo”.

“O futebol brasileiro evocado na Europa”, com esse nome comprido de ensaio literário, não parece, mas é o título de um admirável poema de João Cabral de Mello Neto, com direito às embaixadinhas de um verso antológico:
– O futebol trata a bola com malícia e atenção,/ Dando aos pés astúcias de mão…
                     

***

O mesmo futebol que inspirou esses versos,  iluminou, igualmente, a prosa poética de um mestre do gênero, o saudoso Armando Nogueira (“Drama e Glória dos Bicampeões” e “O Homem e a Bola”), cuja frase límpida e esmerada fizeram-no merecedor do cognome  “o Machado de Assis da bola”:

– Deus castiga a quem o craque fustiga.

– Se a bola não quica, mau caráter indica.

– Gol de letra é injúria, gol contra é incesto, gol de bico é estupro.

De alguma forma, Nelson Rodrigues, Albert Camus, Vladimir Nabokov, José Lins do Rego, Eduardo Galeano, Armando Nogueira ou João Cabral – escrevendo, ou até praticando o esporte bretão – todos agregaram o seu estilo, o seu suor literário  e as suas digitais no limitado retângulo de uma folha de papel, ou na exígua tela de um computador – e nesses espaços marcaram os seus gols.

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