Quando o “juridiquês” não rouba a cena, como acontece neste momento, em tempos de Fla x Flu jurídico para manter ou tirar Lula da cadeia, o futebol jogado no gramado vive de jargões religiosos, todo mundo querendo que Deus jogue no seu time.
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E mais: peladas medonhas desfilam pela Copa do Mundo, como o último França x Bélgica – decidido por um gol de escanteio, igual a dezenas que vi na várzea aqui do Córrego Grande. E o grande mérito do jogo não foi para o garoto-prodígio Mbappé, autor de pelo menos um passe brilhante, mas para o tosco zagueiro Umtiti, improvável herói da Marselhesa.
Não há jogador “agnóstico” – ou seja, aquele ser humano que ignora a existência de Deus. O Senhor entra em campo todos os domingos e veste o uniforme de todas as equipes, “abençoando” os artilheiros. Não há “matador”, que depois de encontrar as redes, não levante os braços para o Céu, em agradecimento ao Altíssimo.
Deus é mais invocado nos gramados do que na Missa das dez. É só observar o número de atletas que se persignam antes do jogo começar, num prodigioso sincretismo, em que se misturam a fé cristã, as “simpatias”, as superstições e outros ocultismos. Não é raro o goleiro beijar alguma medalhinha, benzer-se três vezes e dar três batidinhas com a chuteira no pé da trave:
– Oxalá, mangalô três vezes!
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É o Deus ecumênico do futebol, católico, protestante ou nagô. O “Todo Poderoso” entra em campo para ajudar os seus times, segundo o depoimento expresso pelos craques em campo:
– Vamos fazer tudo que o “professor” pediu e se Deus quiser vamos conquistar os três pontos…
Quando faltam espaços em campo, nem com a ajuda de Deus. E o jogo acaba num frustrante 0 a 0, como até o diabo não gosta.
O repórter corre à beira do campo para entrevistar o craque:
– A gente correu, até que se esforçou, mas acho que faltou foi um pouco de atitude…
Atitude. Mágico ingrediente. Ou seja, faltou postura, disposição, propósito – ou, como reza o jargão corrente… “foco”.
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Já imaginaram se o “futebolês” emprestasse as suas místicas soluções ao “politiquês”? Aí, poderíamos testemunhar entrevistas bem menos dissimuladas e muito mais objetivas:
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– O senhor (deputado, prefeito, senador, governador, presidente) sabe por que aquela licitação – que já estava bem “dirigida” – acabou não saindo?
– Faltou “atitude”! Mas se Deus quiser e o Tribunal de Contas deixar, a obra sai no próximo jogo, com aquela tradicional comissãozinha…
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