Urna eletrônica

Dizem que na Bolsa Eleitoral que preside os mercados do voto o mandato de deputado federal está cotado em R$ 2 milhões, ainda que sob o olho da Lava-Jato e a criminalização do caixa-2.

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O que autoriza a torcida a ficar pensando: com uma cotação dessas, como é que algum “investidor” clandestino vai buscar de volta a aplicação?

Ora, toda “média” é enganosa. Sempre haverá aquele candidato que gastou sola de sapato, saliva e a própria honestidade para conquistar o seu lugar. Este fez a “média” cair. Mas, e os outros? Os que gastaram até mais do que isso, também para manter a “média”?

Sejamos crédulos, mas também realistas. A pergunta que insiste em não se calar é a seguinte:

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– O que haverá de tão atraente numa cadeira de deputado que justifique um investimento de R$ 2 milhões?

Já vão bem longe os dias em que os “cabos eleitorais”mantinham a fidelidade partidária. Nasciam num determinado partido e ali morriam, arrebatando “votos cativos” para a mesma grei e o mesmo candidato.

Hoje, os “cabos” pulam de galho em galho, como atletas de uma prova de obstáculos, em busca da melhor “oferta”.

Votos são negociados aos “lotes” e por um preço de “mercado”. No tempo do Funga-Funga, cabo fiel ao velho PSD no Ribeirão da Ilha, um par de sapatos remunerava um voto. Tudo no fio do bigode. Mercadoria “tratada” era mercadoria “entregue”.

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O eleitor recebia “um pé” antes do sufrágio e outro pisante “depois”. Quem aparecesse de Sacy, num pé só, ou completamente descalço (só pra “disfalçar”) era punido pelo “cabo”. A família do infiel jamais seria contemplada com algum empreguinho…

Hoje, além do custo real, há o embutido, na forma de “boquinhas” no serviço público, parlamentares negociando algum ministério ou estatal “de porteira fechada”…

Tudo está à venda na “tendinha do voto”. Não pode ser séria uma eleição em que o vencedor terá o direito de nomear milhares de pessoas com “boquinhas” e regalos.

A primeira de todas as reformas deveria ser a que exterminasse o poder da caneta para a nomeação de apaniguados. Com a severa organização das carreiras de Estado, mediante acesso apenas por concurso público.

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Daqui a quatro anos, em 2022, vamos celebrar os duzentos anos da Independência. Quem sabe essa reforma não acontece nos próximos 200 anos, em 2222?