Quem é a bola? – perguntava a grã-fina de Nelson Rodrigues.

Encontro-a estirada sensualmente numa cama de lençóis de seda, após uma batalha de amor, 90 minutos depois de Portugal x Espanha, o grande jogo da Copa:

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– Estás exausta, pronta para Brasil x Suíça?

A bola fez um gesto lânguido, de mulher habituada a ser cortejada:

– Não. Nos últimos tempos, quem corre são os jogadores. A bola recebe carícias e, tudo bem, algumas patadas.

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– És daqui deste mundo, ou uma filha do Sol com a Lua?

– Sou aqui da terra mesmo, um dia fui oval, mas fiz regime para perder cintura. Amo ser chutada por gente fina, como o meu Cristiano Ronaldo…

– É o teu preferido?

– Não viram como o gajo me tratou no outro dia? Com uma carícia lasciva, me fez chegar cheia de requebros e rotações, para que me aninhasse nas roupas íntimas da  Espanha…

– Pensei que eras amante do Messi…

– Coitado, sofre de dor de cotovelo, não consegue assistir a cada “cantada” que recebo do Cristiano. Viram o golpe infeliz com que me bateu e me remeteu às mãos geladas do goleiro da Islândia? Agora está lá, sofrendo.

– E o Neymar, gostas dele?

– Ele é malandro, nunca me chamou de pelota, caroço ou gorduchinha.

– Nunca trocou as bolas, te chamando de Bruna Marquezine?

– Nunca. Não seria tão ingênuo. Ele me trata de “você”, de querida, de minha amada…

Cortejada na Copa pelos seus candidatos a Casanova, a Bola  é um ser universal e seu nome está em todas as línguas, as vivas e as mortas. Seu Casanova perfeito poderia ser um brasileiro _ Pelé, os Ronaldos ou, sim, esse Neymar que está entrando em campo agora para acariciar a “gorduchinha” no leito verde de Rostov-on-Don.  

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Interrompo a entrevista neste momento, para que a Bola vista seu mais sensual “peignoir” – e se entregue ao afago de 22 marmanjões.

***

O que dizer dos amores da Bola neste tão dramático Brasil 1 x 1 Suíça? “Ela” poderia facilmente se ter enamorado por Philipe Continho, autor de um mágico gol, digno da assinatura de um grande craque. Mas a Bola se entregou a um perigoso jogo de ciúmes e fingimentos. Neymar, outro que se empenhava pela sua paixão, não podia dar um passo. Era sistematicamente derrubado, caçado, obstruído. Seu prometido idílio com a Bola não aconteceu

A Bola odiou o juiz mexicano – e o drama que ele mesmo apitou.

 

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