A condição de ser a única locomotiva de seu modelo (mallet, logo se descreve a referência) em operação na América do Sul ajuda a ilustrar o histórico de sobrevivência da máquina a vapor com base em Rio Negrinho. A “maria-fumaça” foi fabricada em 1949, labutou em ferrovia no Sul do Estado carregando carvão e foi encostada depois de uma enchente. Após ser levada para lá e para cá, a máquina acabou salva da desmontagem e da ferrugem eterna pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), na regional com sede em de Rio Negrinho. Restaurada (logo se chega lá), a máquina tem os passeios na Serra do Mar, entre Rio Negrinho e Corupá, como ocupação principal, além de roteiros eventuais – teve ano em que mais viajou mais de 2 mil km. Há mais funções: nos próximos dias, será a vez de voltar a percorrer cidades de SC e PR, toda iluminada, em mais uma programação de Natal. Se for para resumir, essa é a história da locomotiva 204, o número de catálogo quando entrou em operação. Mas tem mais.
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A máquina foi produzida nos Estados Unidos pela Baldwin, então a maior fabricante do mundo de locomotivas a vapor. O antecessor da RFFSA, o Departamento Nacional de Estradas de Ferro, fez a compra de um lote de máquinas para distribuição pelo País. O destino da 204 foi a Ferrovia Thereza Christina, para o ramal de Lauro Müller. Agora é preciso voltar ao modelo mallet.
O passeio Trem da Serra do Mar
O tipo de locomotiva, com nome em referência ao engenheiro suíço Anatole Mallet, inventor do sistema, é articulada, com dois conjuntos de pistões e de eixos de rodas, com funcionamento independente, ainda que ligados por um pino. Deixando a explicação mais fácil, a locomotiva “dobra” nas curvas, como um ônibus articulado. Um trunfo para enfrentar curvas fechadas, comuns nas ferrovias mais antigas, como observa o detalhado histórico elaborado pela ABPF de Rio Negrinho. Há outras “maria-fumaça” em operação no continente, inclusive no Brasil, em Santa Catarina e mesmo Rio Negrinho, mas do tipo mallet, só a 204.
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A fábrica da Baldwin, nos EUA
A máquina veio no último lote das sete locomotivas compradas para a ferrovia Thereza Cristina. A operação no ramal de Lauro Müller se estendeu por 24 anos e, quando parou, não foi por causa da “maria-fumaça”: a RFFSA avaliou que não valia a pena recuperar a ferrovia depois da enchente de 1974. A locomotiva até foi usada em outros segmentos da ferrovia, mas, com a chegada de novas máquinas, mais potentes, a era das “maria-fumaça” no transporte de cargas chegava ao fim. Mas não foi o fim da 204.
Das sete irmãs que vieram para a ferrovia Thereza Cristina, sobraram três. Duas delas estão em Tubarão, em exposição. Ainda queimando lenha (é usado eucalipto, mas funciona também com carvão), em operação, só a 204. Graças à ABPF de Rio Negrinho. A locomotiva foi levada para outras cidades, mas sua morada atual foi possível após a restauração feita pela associação, depois de receber o equipamento em em 1997, após doação da RFFSA em 1984.
Confira as imagens da 204 em operação em SC
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A restauração se estendeu até 2017. Não foi tarefa fácil – basta olhar na galeria de fotos o estado da 204 quando chegou a Rio Negrinho. Havia documentos técnicos e históricos para guiar a reforma, mas não tinha uma outra locomotiva em operação para ajudar na comparação. O diretor secretário da regional Sul da ABPF (em Rio Negrinho), Thomaz Schoeffel, conta que houve peças que tiveram de ser fabricadas partindo do “zero”. O tender, o vagão que carrega lenha ou carvão, por exemplo, teve de ser refeito.
E ainda foi preciso a atualização, por questões de segurança, como uso do ar comprimido nos freios (antes era a vácuo), sistema de computador integrado aos freios, para eventuais emergências e GPS. “Não são originais, mas necessárias para a segurança dos dias de hoje”, conta o diretor Schoeffel. Uma modernização para a 204 continuar circulando, um feito para a locomotiva sobrevivente que carrega tanta história.
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