Ao final do sétimo ano de mandato, Udo Döhler mantém a "preparação de Joinville para o futuro" como principal realização de sua gestão. A insistência no tema é tamanha que questões como manutenção de ruas são, comparativamente, abordadas em segundo plano. Na esfera política, o governo Carlos Moisés é poupado de cobranças e a participação nas eleições de 2022 não chega a ser descartada. Abaixo, a entrevista concedida ao AN.
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Joinville não continua precisando de mais recursos para a manutenção das ruas?
Udo Döhler – Só o tapa-buraco não é solução. Nós temos ruas que foram mal pavimentadas ou porque o tempo as consumiu. A Helmut Fallgatter, a Albano Schmidt, a Quinze no Vila Nova, a Santa Catarina, todas serão pavimentadas. Tem todo o dia equipes tapando buracos (nessas ruas).
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Então o dinheiro para o tapa-buraco é suficiente? O que atrasou foi o recape?
Udo – Exatamente. Mas não é que o recape atrasou. Nós fizemos uma experiência exitosa em 2014: com os R$ 13 milhões do Badesc, pegou a Tenente Antonio João, a Piratuba, a Duque de Caxias etc. Aí tínhamos que reconstruir nossa capacidade de pagamento, capacidade de endividamento já se tinha. Assim que tivemos isso ajustado, buscamos os R$ 61 milhões no Banco do Brasil e apanhamos mais R$ 100 milhões. Vamos ter canteiro de obras. Se a drenagem do Mathias já nos trouxe desconforto, esse desconforto vai ficar pelo ano inteiro porque a pavimentação vai passar por aí, não dá para pavimentar uma rua neste mês e outra rua no mês seguinte. Vamos ter de avançar simultaneamente pelo Centro, pelos bairros. Vamos passar por desconforto, mas será um avanço de extrema importância. São cerca de 450 ruas.

Não se vê um avanço tão significativo que mostre que as obras do rio Mathias vão ser concluídas em 2020. Vão mesmo terminar em 2020 (a conclusão devia ter ocorrido em 2016)?
Udo – Vão. Essas obras chegaram a parar, as empreiteiras estavam em situação muito difícil. A fiscalização tem sido rigorosa, o MP e Tribunal de Contas nos ajudaram e as obras estão em ritmo bem mais acelerado. Foram tapados os buracos que estavam incomodando na Beira-rio, a Jerônimo Coelho e a Jacob serão concluídas. Essa obra será terminada. E como recuperamos nossa capacidade financeira, nós estamos antecipando recursos para as obras do Mathias, depois somos ressarcidos pelo governo. Mas para não perder, apresentou a fatura, é paga. Vamos terminar o Mathias no nosso governo.
Por que não visita essa obra?
Udo – Visito.
E a ponte do Adhemar Garcia? Mais um ano que a obra está encaminhada, como estava no ano passado, em anos anteriores?
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Udo – Isso me obriga a fazer um histórico. Quando eu fui candidato em 2012, o governador Colombo assegurou R$ 120 milhões para a ponte. Na eleição de 2016, disseram que nosso projeto era inconsistente, dissemos “manda o dinheiro para cá”, mas o recurso não veio. Mas como nós recuperamos a capacidade de pagamento, o Fonplata nos financiou US$ 40 milhões. O projeto executivo está pronto, o licenciamento pronto, só falta a assinatura final. Depois é a licitação internacional. Não dependemos de mais nada. Claro que não vamos acabar essa obra no ano que vem, mas vamos iniciá-la.
Mas estava assim em 2016, 2017, sempre está encaminhada…
Udo – Mas você tem que fazer essa pergunta ao Colombo, por que os R$ 120 milhões não foram repassados. Como aconteceu na Quinze de Novembro, que teve até ordem de serviço, na Prudente de Moraes, Eduardo Pinho Moreira veio aqui e não saiu nenhum tostão. São obras que estão sendo executando com recursos nossos. Mas não tínhamos como fazer a ponte com a fonte 100 (caixa da Prefeitura). Aí contratamos 40 milhões de dólares da ponte. Temos 70 milhões de dólares do Itaum-açu (empréstimo com o BID para drenagem e outras obras), 160 milhões de reais do Banco do Brasil, 40 milhões do PAC da Mobilidade, sem considerar que estamos investindo nos próximos três anos e meio 535 milhões em saneamento. É dinheiro que não acaba mais.
A cobrança histórica por viadutos em Joinville foi trocada por melhorias nos acessos, principalmente da Quinze de Novembro e da Ottokar Doerffel…
Udo — Antes de falar na questão dos acessos, vamos esgotar o tema dos viadutos. Viaduto foi um fake na campanha eleitoral: “vamos encher a cidade de viadutos”. Felizmente, Joinville foi escolhida pelo instituto GIZ (agência alemã). O GIZ trabalha com a mobilidade em capitais europeias e resolveu ir para as Américas. Escolheram Joinville e estão com a gente há um ano e meio. E disseram “esquece de viaduto, de duplicar via”, é o transporte intermodal que tem de avançar. Nesse momento, já estávamos com nosso Plano de Mobilidade pronto, o primeiro do País. Temos nosso Plano Diretor de Transporte Ativo. Infelizmente ninguém tem conhecimento disso, não sei por que não se divulga isso. Nos planos são referência para todos. E surgem fatos novos. Nós temos aqui as ciclovias, as ciclofaixas, o passeio compartilhado e agora patinete está aí. Vamos colocar o patinete onde? No meio da rua, na calçada? Então é provável que vamos ter mais passeios compartilhados para uso da bicicleta e do patinete. Temos o programa com o Waze, que veio para cá estudar deslocamento compartilhado. Lançaram aqui o Carpool (aplicativo de carona). Hoje somos referência. Todas as nossas soluções são técnicas, com simulação em tempo real.
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Mas há necessidade de investimentos em infraestrutura. A Prefeitura cobrou do Estado a duplicação do Eixo Industrial, entre a BR-101 e Distrito Industrial.
Udo — Ali é para escoar carga, por isso precisa ser duplicada. O nosso estudo de mobilidade é o mais avançado do Brasil, sem rodeio. Estamos com o Waze, com o GIZ, com uma equipe jovem lincada com isso, temos parceria com a UFSC, vamos fazer com o Japão.
Mas e os acessos, tem proposta no seu plano de governo para viabilizar a ampliação com o governo do Estado.
Udo – Sim, só que esquece o governo do Estado. Dizem que o prefeito não bate n governador, mas o que adianta cobrar algo se não tem como pagar? Não posso perder tempo, o governo do Estado está quebrado e governador quer colocar a casa em ordem. O que fizemos em 2013? Exatamente a mesma coisa, o município estava quebrado. Hoje nós temos nossa folha de pagamento assegurada até 2021. “Ah, mas isso é marketing”. Não é marketing. Isso se não se consegue fazer no setor privado, mas consegue no público você conhece suas receitas e pode projetar as receitas com o avanço na economia.
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Mas voltando aos acessos…
Udo – Nós temos a Almirante Jaceguay, que precisa ser aberta e será um suporte para o Distrito Industrial. Temos que melhorar o acesso Sul. A entrada pela Quinze de Novembro vai passar por um repaginamento, Estamos estudando como será o acesso para atender um novo parque vertical de serviços e de habitação previsto para a região Norte. Já temos recursos para a reubarnização do Centro. Além disso, o novo Porto Cachoeira (parque linear) está perto de sair. A Fiesc adquiriu o Moinho e vamos ter uma área voltada à inovação, com museu da indústria. Se soma ainda o centro de dança, inovação e cultura (terreno da antiga ADR), que não andou por falta de vontade política ou técnica do governo do Estado, onde o governo do Estado não precisa investir, é investimento privado. Tem o Instituto Core que será ampliado. Temos uma outra cidade. Infelizmente, nos recusamos a olhar para o futuro, (dizem) “olha, esse prefeito não faz nada, tem que tapar o buraco da rua”. O buraco da rua nesse todo é deste tamanhozinho.
E a relação com o governo Moisés, está satisfeito?
Udo – Estou satisfeito. O governo Moisés veio com a mesma dificuldade que nós encontramos aqui em 2013. O cofre foi fechado para pagar as dívidas da saúde, as finanças ainda estão sendo saneadas, a classificação é ainda C. Daqui a pouco vai para a B e vai conseguir pegar R$ 800 milhões no BNDES e vai investir em infraestrutura. E conseguiu resistir às pressões clientelísticas, teve dificuldades dentro do seu próprio partido, agora surgiu um novo partido. E tem dois PSL, um do governador e outro do Schiochet (Fábio Schiochet, deputado federal e presidente estadual do partido).

Essa avaliação tão positiva não tem também a ver com acordos para 2020? Não tem nada encaminhado nesse sentido?
Udo – A cidade de Joinville está indo muito bem, tenho esse convencimento. Nós preparamos a cidade para o futuro. Não estou fugindo da pergunta, mas a cidade está preparada. Não falamos mais em gestão, porque os barulhentos aproveitam meu sotaque e ficam falando “gestón, gestón”. É o único município brasileiro que não usa mais papel. Todas as nossas informações estão disponíveis e visíveis. Isso não existia antes. O futuro prefeito, se ele tentar mexer nisso e começar a endereçar licitações etc., não fica uma semana na Prefeitura. O que nós buscamos nos dois mandatos: deixar um legado para a cidade, que é deixar a cidade preparada para o futuro. Porque daqui a 20 anos, 40% das profissões de hoje vão desaparecer. Joinville é o único município brasileiro – e não sei por que a imprensa se recusa a dizer isso – a ter convênio com Cingapura de matemática e ciências. Temos uma parceria de um ano e meio. Todos os nossos professores estão lecionando no método de Cingapura em matemática e ciências. Estamos tendo um ensino fundamental preparando a criançada para o futuro. Nós tivemos diversas fases na educação. A primeira foi de higienização das escolas, as escolas foram reformadas, climatizadas. Depois vem a segunda fase, as escolas foram equipadas, notebook, lousa digital. Depois descobrimos que não havia laboratórios de ciências. Todas as escolas foram equipadas com laboratórios. Agora estamos na terceira fase, da robótica e dos espaços maker. Se a gurizada não ingressar na área de tecnologia, vai ficar desempregada lá na frente. Esse é o legado. E sem matemática e ciências, esquece, você não avança na área tecnológica. Claro que não estamos querendo transformar o ser humano em um robô.
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Mas a relação com o governo do Estado, tem acordo com o PSL?
Udo – Deixa eu falar do meu partido. Em 2012, tínhamos três e elegemos quatro vereadores. Em 2016, elegemos cinco e não fizemos o sexto por 182 votos. “Ah, com essa reforma (mudança no cálculo das sobras), o MDB só vai eleger três vereadores”. Engano: vai eleger sete. Seis com toda a certeza, mas com chance de eleger sete. Em nível nacional, o MDB era um desastre, fizemos um esforço muito grande para que Pedro Simon fosse o presidente, e ele estava inclinado a aceitar. Mas não foi e acabou vindo uma solução intermediária que não resolveu o problema do MDB. Só que, para efeitos de Santa Catarina, o vice-presidente é nosso, que é o deputado Chiodini, o que é bom. É o terceiro nome na linha sucessória do partido. Se pegar o MDB estadual, tivemos uma eleição desastrosa na sucessão estadual, houve um equívoco do partido. No entanto, o deputado Celso Maldaner (presidente estadual) harmonizou tudo isso e juntou o partido. Claro que tem uma ou outra dissidência. Mas em nível estadual já ocorreram três reuniões com prefeitos e vice. Hoje o MDB governa 101 municípios, deve governar de 110 a 115 municípios a partir de 2021.
E em Joinville?
Udo – Em nível municipal, e isso nunca aconteceu, nós tivemos uma convenção na qual apareceu o dobro de membros do que o esperado, não se teve que correr atrás de pessoas para fazer quórum. Chapa única. Também tivemos descontentes que saíram do partido e se abrigaram em outras agremiações, que bom. Não existem mais dissidências dentro do partido, o partido se juntou. Isso vai facilitar na sucessão à candidatura do MDB. É claro que o MDB terá que buscar as alianças, ninguém governa sozinho. O Executivo governa em sintonia com o Legislativo, se não tiver maioria no poder Legislativo, as coisas não avançam. Se tem uma oposição barulhenta, como é a oposição em Joinville, as coisas não andam na velocidade necessária. Tem coisas que ficam aí um ano paradas, um ano discutindo, achar que isso vai atingir o prefeito, é ruim para a cidade. Mas já pensou se essa oposição for maioria? Não se governa.
E as alianças?
Udo – Então, as alianças são necessárias para que tenha essa maioria na Câmara, não só confortável como qualificada. E isso vai ser grande a surpresa da eleição do ano que vem: o eleitor vai ficar atento ao candidato, mais do que agora. Espaço político não pode ser profissão, isso está começando a desmanchar. O MDB de Joinville deve buscar alianças, hoje está em uma situação boa, o presidente municipal é deputado estadual, já foi presidente da Câmara, teve uma boa votação, hoje o MDB tem nomes para a sucessão, mas vai precisar de alianças e isso passa em conversar com o governo do Estado, que está fazendo uma gestão que está nos surpreendendo. Qual a notícia que saia todo o dia no rádio, na TV e no jornal: “o Estado está quebrado, vai fechar tudo, a saúde vai fechar”. Alguém fala agora que a saúde está quebrada? Eram R$ 600 milhões de dívidas e isso se reduziu a R$ 150 milhões e vai limpar tudo nos próximos dois meses. Limpando a saúde, começa a respirar. Nesse meio tempo, conseguimos os R$ 38 milhões para duplicar a Edgar Meister e Hans Dieter Schmidt.
Por que o senhor escolheu o deputado Krelling como candidato a prefeito?
Udo – Nós não escolhemos o Krelling, quem escolhe é o partido. Nós tínhamos vários nomes a ser considerados, se falava no Roque Mattei, Simone Schramm, Danilo Conti, o vice Coelho. Isso foi passando por um processo e hoje o MDB está consensado.
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Consenso em torno de Krelling, não é?
Udo – O Krelling é um bom nome.
Mas não é o nome?
Udo – Não existe nenhuma decisão sobre isso, quem vai decidir é o partido. O próprio Krelling já disse que o nome dele está à disposição, mas qualquer pessoa que estiver com a mesma disposição, quem vai decidir é o partido.
Essas suas participações em reuniões estaduais do MDB são mais frequentes agora do que antes. Há planos para 2022?
Udo – Sim, estou participando mais. Mas por quê? O MDB sempre foi um partido muito agitado e com eleições muito disputadas. Lembro que em uma eleição do partido, eu e o senador Luiz Henrique saímos da convenção desapontados. Mas saímos dali e no dia seguinte continuamos dentro do partido porque se especulava que eu procuraria outra legenda e isso não aconteceu. Eu não descartava sair porque ou as coisas mudam ou a gente procura um terreno na Barra do Sul para pescar um pouco. Hoje, o MDB está unido e forte, consolidado no município, isso não se discute. Se você olhar para o quadro que está aí, quem são os prováveis nomes? É difícil saber. Temos o partido Novo, que escolheu o Adriano Silva, o PT tem o Assis, tem o Ninfo , que não sabe se concorre a vereador ou prefeito, está tudo no ar. No MDB isso não ocorre, está pacificado.
O senhor pensa em concorrer em 2022?
Udo – Em 2022 nós temos uma nova eleição. Não sou candidato agora (2020), estou no segundo mandato. Se o nosso candidato achar que é bom a gente ajudá-lo, vamos fazê-lo. 2022 é um novo momento, estamos muito distante de 2022.
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No ano passado, quando perguntando sobre 2022, o senhor descartava concorrer. Agora parece que tem três pontinhos…
Udo – Não tem três pontinhos. Nós vamos mergulhar na eleição de 2020 por duas razões. Primeiro, Joinville não pode mais correr risco de uma improvisação, se isso acontecer, o prefeito não sobrevive. Até o final do ano que vem, todo o cidadão vai ter acesso aberto a todas as informações do município. Estamos sete anos sem nenhuma licitação anulada, nós interrompemos licitações no percurso. Acabou o clientelismo.
Em relação ao licenciamento, a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente passou por reestruturação, mudou procedimentos, mas ainda há queixas por atrasos. O que está havendo?
Udo – É outra coisa que é difícil as pessoas assimilarem. Nós passamos o licenciamento para o Estado. Licenciamento é um carimbo e todo o nosso pessoal fazendo licenciamento, deixa o Estado fazer. Nós temos que fazer gestão ambiental. Temos que evitar que especuladores imobiliários invadam a zona Norte e, não contentes, queiram invadir a zona Sul. Com isso, acaba nossa água. Aí vamos ter que comprar água mineral de Minas Gerais para não morrer de sede. Mas como há determinação judicial, o licenciamento voltou para cá, nós nos reorganizamos, estamos trabalhando fortemente na autodeclaração, existe resistência por parte do Ministério Público, mas vamos avançar nisso. Hoje, nos percebemos que 75% dos pedidos podem ser feitos por autodeclaração. E aquilo (análise dos licenciamentos) vai e volta desnecessariamente, o risco de ter equívocos fica presente. Mas tivemos mudanças importantes, as entidades de classe não reclamaram mais, perceberam os avanços.
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Qual o grande desafio para o próximo prefeito? Em 2012, sua campanha dizia que era a gestão.
Udo – Essa está pronta. Tem que ter a leitura que tivemos. A cidade serve para quê? Para proporcionar o bem estar social para as pessoas. Não é para alargar ruas, nem construir viadutos adoidado por aí. Se tivéssemos construído viadutos, teríamos jogado dinheiro fora e estaríamos com o nosso hospital e postos sucateados e nossas escolas caindo aos pedaços. Então, o que cabe ao futuro gestor? Fazer com que a desigualdade diminua e para isso precisa investir fortemente nos bairros.