Moradores da região já haviam enviado carta sobre o tema e logo foi a vez de visitar a redação do jornal, em Joinville: a preocupação era com os “insistentes boatos” sobre o fechamento do canal do Linguado, em São Francisco do Sul. O grande temor era o impedimento da navegação de pescadores, além dos impactos na barra de Araquari. Era maio de 1908 e o registro foi do jornal “Commercio de Joinville”.
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Naquele momento, apenas parte do canal havia sido aterrada. Mas não teve jeito: o que era boato se confirmou e o fechamento completo foi concluído em 1935. A mobilização do grupo de moradores de Araquari não conseguiu evitar a interferência na baía da Babitonga. Mas ficou, para sempre, o registro de que já havia quem alertasse sobre o Linguado antes mesmo do aterramento completo. No próximo mês, será apresentado estudo sobre os impactos da reabertura ou da manutenção do canal – o diagnóstico será usado para a definição da alternativa a ser adotada na duplicação da BR-280.
Confira imagens do canal do Linguado e de rodovia
O canal do Linguado teve uma primeira parte (Norte) aterrada em 1907, com trabalhos iniciados dois anos, para a implantação da ferrovia de ligação com o porto de São Francisco do Sul. O ramal fazia parte da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. Na parte Sul (a “divisão” entre Norte e Sul é feita por uma ilha no canal) recebeu duas pontes metálicas, sendo uma provisória. A estrutura era giratória, permitindo a passagem das embarcações.
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As pontes sofreram com as marés, com ameaças à estabilidade. Os pilares foram reforçados com pedras, mas a defesa de fechamento do canal ganhou força e decreto federal de 1933, do governo Getúlio Vargas, autorizou as obras. O aterramento, feito por 400 trabalhadores, foi concluído em 1935, com uso de 60 mil metros cúbicos de pedras, conforme apontaram pesquisadores. Não demorou muito e começava a mobilização pela reabertura. Ainda em 1935, houve registro de pedido do governo de Santa Catarina ao Ministério da Marinha para a remoção do “entulho”, como era chamado o aterro.
Além da ferrovia, o aterro recebeu uma estrada. Ainda em dezembro de 1935 – e foi notícia de jornal – um carro foi de Joinville a São Francisco do Sul, em “viagem feita em excelentes condições, em uma hora e meia”. Nas décadas seguintes, houve muita mobilização pela reabertura. Curiosamente, um dos momentos de luta pela reabertura, em 1963, era para aproveitar o momento de pavimentação da estrada entre Joinville e São Francisco do Sul para discutir o futuro do canal. Em tempos recentes, foi a sucessora daquela estrada, a BR-280, que motivou a retomada da discussão sobre a reabertura do Linguado.
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