Se Ayrton Senna e Gustavo Kuerten dominaram as manhãs de domingo por algum tempo, à tarde o futebol sempre foi a grande atração. As cidades tinham os próprios campeonatos, que classificavam o representante para o Estadual. O almoço preparativo para o caminho dos estádios em geral era o macarrão, galinha ensopada com maionese ou carne de panela. O prato que se só via aos domingos.
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Em seguida, o futebol, e íamos mais cedo, pois às 13h30min tinha o Campeonato Citadino de Aspirantes, com o jogo dos mesmos clubes que fariam a partida principal às 15h30min. Em algumas oportunidades, subíamos em um eucalipto ao redor do estádio (Campo da Liga) para, sentado em um dos galhos, nada confortável, apreciar os jogos. Rezando para não despencar.
Saudosas tardes de domingo, quando o futebol era jogado no sistema 2-3-5, ou seja, dois backs (direito e esquerdo); três na intermediária, e o ataque arrasador, pontas direita e esquerda, dois meias e um centroavante de área. Não existia futebol reativo, marcação baixa, facão, quebra de linha. As expressões eram meia driblador, ponteiro arisco que centra bem a bola e com grande velocidade, e centroavante.
A partir do chamado ferrolho implantado no Brasil pelo técnico mineiro Martim Francisco, que dirigia o América do Rio, as coisas foram mudando e se aprimorando para o futebol defensivo. Foi-se o brilho do futebol leve, solto, ofensivo com muitos gols. Hoje, segundo um manezinho atento aos acontecimentos:
– Eu almoço, descanso um pouco, tomo um banho, ponho a camisa do meu time e me mando para a sala… Espero o futebol das quatro da tarde na televisão… Tento torcer, dou alguns gritinhos, o vizinho escuta, mas não entende nada, vou na janela pra ver se discuto ou brigo com alguém e nada. Me lembro da tal doença que está nos ameaçando e me pergunto: Quando será que esse pandemônio vai embora, hein?
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Piquenique
As tardes de domingo eram tão saborosas e ligadas ao futebol que me remetem à infância, tempo escolar da iniciação no primário. Estudar? Nada, ainda era cedo. Esperávamos pelo Dia da Criança. Era quando a professorinha Maria da Graça Tonolli de Oliveira perguntava:
– O que querem de presente?
– Um domingo no campo da Liga – respondíamos.
Glória total
E lá íamos todos pela manhã viver o nosso momento de glória. Andar, jogar, tocar nas redes das traves, onde os nossos ídolos jogavam nas tardes de domingo. De vez em quando deixávamos a professorinha meio envergonhada, lembrando jogadas de alguns craques da época, e o principal era Saulzinho, justo o namorado dela. Veio a ser seu marido e um dos mais importantes nomes do futebol catarinense: Saul Oliveira, de quem me tornei amigo. É a vida.
Uma luz
A falta daquelas tardes de domingo é muito grande. Estamos recolhidos em obediência a determinações superiores. Buscamos suprir as tardes de domingo em frente à televisão. A saudade da bola rolando aumenta. Temos uma data: 5 de julho será de uma nova avaliação da situação. O mês de junho e o nosso comportamento vão decidir.

Toque do Bob:
> A possibilidade de um retorno ao futebol em julho botou os times em campo. Temos 30 dias, no mínimo, para recuperar as equipes antes da marcação oficial da retomada do campeonato.
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> A grande preocupação está no Oeste, onde a proliferação do coronavírus atingiu marca preocupante. A Chape recebe o Avaí e o Concórdia tem jogo com o Tubarão. Os números precisarão baixar bem para que seja possível o futebol na região.
> Continuo trabalhando com a possibilidade da retomada do futebol na segunda quinzena de julho. As previsões deste mês não são animadoras. A chegada do inverno, com possibilidade de queda acentuada na temperatura, será determinante.
> Os árbitros que já participaram on-line de testes com a Comissão Nacional de Arbitragem da CBF intensificam treinamentos neste mês. A Federação Catarinense de Futebol (FCF) já havia determinado um protocolo a ser cumprido durante a paralisação.
> Foram feitos também trabalhos virtuais, como reuniões e vídeos testes, além de um plantão das 14h às 16h para registros. É possível que o expediente normal volte na segunda quinzena de junho.
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> Uma reunião ocorrida em 14 de maio pelos clubes nos fez saber que para o reinício do Estadual poderiam inscrever mais três atletas dois dias antes dos jogos. Um deles poderia ter atuado neste campeonato por outro clube. A decisão vai de encontro ao artigo 25 do regulamento geral das competições, e a FCF distribuiu circular dizendo que esta possibilidade não existe. É o caso de Renato, do Avaí, que já atuou pela Chapecoense. Só jogará pelo Leão no Campeonato Brasileiro.