Nesta sexta-feira (23), o ex-jogador de futebol, Edson Arantes do Nascimento, conhecido mundialmente como Pelé, completa 80 anos de idade. O atleta começou sua carreira em 1956 no Santos e finalizou em 1977 no Cosmos, dos Estados Unidos.
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Feliz de quem teve o privilégio de vê-lo jogar. Feliz de quem com ele chegou a falar. Sou um homem feliz. O sonho Pelé eu realizei em todos os sentidos. Santa humildade, exemplo de simplicidade. Meu primeiro encontro com ele foi na inauguração do Banco Campina Grande, em Florianópolis. Veio de jatinho, cortou a fita do banco e retornou ao aeroporto, mas antes concedeu uma entrevista rápida ao único repórter que conseguiu entrar e chegar perto dele. Era eu, jovem, iniciando carreira e sempre metido, neste caso, onde devia. Sucedem-se alguns outros encontros inesquecíveis.
Em Santa Catarina
Pelé jogou em Joinville, Blumenau e Florianópolis e fez parte da delegação do Santos que esteve em Taió, mas estava contundido e não jogou. Em 1961, veio a Blumenau e fez cinco gols dos oito marcados no Olímpico. Antes do jogo, fomos cedo almoçar na Gruta Aula e lá estava o Santos. Fui à sua mesa, onde também almoçava com o zagueiro Mauro Ramos de Oliveira. Ele solícito levantou para o cumprimento de praxe. Não havia na época a clausura imposta pelos clubes escondendo seus ídolos.
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No Adolfo Konder
Pelé estava curando uma contusão. O Avaí utilizou o zagueiro Oberdan (ilhéu) para convencer o Santos a autorizar o Pelé a vir para Florianópolis jogar um amistoso. O grande argumento foi a excelência do gramado do estádio Adolfo Konder. Nicolau Moran, diretor do Santos, se empolgou e Pelé veio.
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Estreia
Foi em 15 de agosto de 1972 a primeira transmissão de um jogo de televisão na Capital. Sábado à tarde, Avaí e Santos, e eu começando a carreira de narrador de TV com Pelé em campo. Sem cabine, espremido no meio do povo. O Santos quando viu o gramado pediu explicações imediatas a Oberdan.
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A mentira
Não havia outro jeito. Oberdan disse ao diretor Moran que, infelizmente, na véspera do jogo, o Exército teria requisitado o estádio para um dia de treinamentos especiais. E acabaram danificando o gramado, deixando-o neste estado. Pelé entrou e fez que jogou. À noite, o jantar na Lindacap e eu de novo metido ao lado do Rei.

Meu amigo
Em outra oportunidade, fui ao Rancho Silvestre, no Embú, em São Paulo, onde o Santos estava. Queria entrevistar Pelé, achando que já era amigo dele. Cheguei atrasado, depois do treino. Procurei Oberdan, mas já estavam recolhidos.
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Quando ele soube que era eu, deu um jeito e veio. Oberdan, assustado, querendo me atender disse: “O problema é entrar”. Eu perguntei, “E o Pelé?”. “Não é problema, está no quarto comigo”, respondeu. Foi então que entramos. Quando o Pelé me viu, falou: “Ah… é você?”
Esteve a ponto de dizer: “Pô. Tu é chato, hein?”. Mas sua humildade e simplicidade não permitiram. Fiquei quase 30 minutos com ele, graças ao Oberdan Villain, que por 10 anos jogou com o Rei.
Eu vi
Em 1961, Pelé marcou o que Joelmir Beting chamou de Gol de Placa no Maracanã. O Fluminense tinha a melhor defesa do Brasil, com o goleiro Castilho não tendo levado gol no Torneio Rio-São Paulo daquele ano. Mas o Rei pegou a bola na intermediária e driblou quase o time todo do Fluminense para ficar na cara de Castilho e marcar. Notável. Eu estava na arquibancada do Maracanã.
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TOQUE DO BOB
Em Joinville, Pelé jogou contra o América em 17 fevereiro de 1957, antes da Copa de 1958. Estava sendo lançado naquela época. 5 a 0 foi o placar e, mesmo sem marcar, o garoto foi o melhor em campo.
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Em Jurerê internacional, encontrei Edinho, filho do Rei. Veio para um futevôlei com Renato Gaúcho, Claudio Adão, Renato Sá e uma turma de boleiros.
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Depois do jogo, alguém disse: “Aquele ali viu teu pai jogar muitas vezes”. Era eu. Papo daqui e dali, me chamou atenção que ele não o chamava de pai e sim de Rei. Perguntou: “Escuta, o Rei jogava tudo isso que falam mesmo ou é a mídia que exagera?”
Pelé, de vez em quando, dava suas fugidinhas da concentração. Ôpa, calma… É porque quando precisava durante o dia tratar de algum assunto particular tinha de sair escondido pra evitar a imprensa sempre de plantão.
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Como fazia? Tinha uma Mercedes branca muito bandeirosa. Todos de olho no veículo. Saía tranquilo no fusquinha do Oberdan e ninguém percebia.
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Vi Pelé em muitos jogos, não só do Santos, como da Seleção Brasileira. Incomparável. Compará-lo a Maradona e outros bons jogadores não faz sentido. Pelé é único.
Vida longa ao Rei que completa 80 anos nesta sexta feira em meio a celebrações pelo mundo inteiro.