O Figueirense está na vida de todos nós que gostamos de futebol. A chegada ao centenário nos remete a uma trajetória de crescimento, conquistas, nomes e muita história, que deve ser comemorada dentro do possível, por causa da pandemia. A fundação no bairro Figueira é por demais conhecida. Nesta edição da coluna, farei uma homenagem aos 100 anos do Alvinegro recordando histórias que vivi com o clube.
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O grande momento
Conquistas de títulos e vitórias marcantes foram muitas que vivenciamos. Há, no entanto, aquele momento inesquecível e ele foi em 1975, na velha Fonte Nova, em Salvador. Vitória de 1 a 0 sobre o Bahia e uma passagem de fase do Campeonato Brasileiro. Naquele ano, Toninho Quintino foi o artilheiro e a grande revelação do campeonato recebeu um automóvel da CBD, como era chamada na época a hoje CBF, de presente.
Primeira transmissão
Foi minha primeira transmissão pela TV Cultura fora de Santa Catarina. Na cabine estavam comigo Orlando Scarpelli, Osmar Cunha, Humberto Machado, José Mauro Ortiga, o desembargador José Ferreira Bastos, entre outros nomes. A transmissão quase interrompida na hora do gol de Volmir, do Figueirense. Ao comemorar, muitos deles pularam em cima de mim, microfone no chão, o transmissor que emitia o sinal para a Embratel no canto da cabine foi derrubado e interrompeu o sinal. Dali para frente tivemos dificuldades para terminar a transmissão. Quase não gritei o gol.
A chegada na praça
Segunda-feira à tarde, parecia feriado em Florianópolis. Do aeroporto a Praça XV, bandeiras, lenços, povo acompanhando o desfile no carro de bombeiros dos jogadores. Na praça era impossível chegar. Parecia que o Figueirense havia sido campeão do mundo.
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A entrevista
Fernando Bruggmann Viegas, presidente do Conselho Deliberativo, era deputado estadual da ala radical da União Democrática Nacional (UDN) e havia sido cassado por um discurso que fez na Assembleia Legislativa em 1969. Era aviador da aeronáutica.
Convidei-o para um debate na TV para falar da conquista alvinegra. Recusou, alegando que com os direitos suspensos por 10 anos não poderia dar entrevista, a não ser com ordem do comandante do 5º Distrito Naval.
Autorização
Fui ao almirante. Pedi a autorização para levar o deputado Viegas (cassado) à televisão para falar exclusivamente de futebol. Impossível. Insisti. Comigo estava o diretor-presidente da TV, Darcy Lopes, apavorado com a minha ousadia. Assinei documento garantindo que o papo era futebol. Almirante, duro na queda, cedeu com uma recomendação:
– Se falarem de política, fecho a televisão – avisou o comandante.
OK. Darcy Lopes já queria me demitir antes do programa, mas como era udenista e Figueirense, topou.
O debate
O propósito era analisar o time do Figueirense, que estava num ano de graça e a vitória em Salvador fez parar a cidade. Viegas, figura querida, amava o Figueirense, incapaz de fazer mal a alguém, se empolgou ao falar da chegada do alvinegro a Florianópolis e entrou pelo caminho perigoso.
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– Tinha mais gente na praça que o último comício do Brigadeiro Eduardo Gomes. Este deveria ter sido o presidente da República, naquela campanha memorável. O Figueirense é tão grande quanto o nosso candidato – disse ele.
Por baixo da mesa batia na perna dele e nada.
E agora?
Dia seguinte uma ligação: “O almirante gostaria da sua presença em seu gabinete”. O homem me recebeu com sorriso e disse:
– Foi muito bom o programa. O seu desespero pra fazer o homem parar de falar foi o ponto alto. Cá pra nós, o brigadeiro era mesmo o melhor candidato, ele tinha razão.
Fernando Viegas morreu em 8 de setembro de 1989, aos 62 anos. Jamais esquecerei este momento.
Curiosidade
Três presidentes do Avaí jogaram pelo Figueirense por empréstimo: Saul Oliveira (também foi técnico), José Amorim e Adolfo Camilli Martins, o Adolfinho.
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