Foi, quem sabe, a Copa do Mundo mais marcante que vivi. E não estava lá. Entenda por quê.

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No dia 31 de maio de 1970 tive o privilégio e viver a emoção de colocar no ar o primeiro canal oficial de televisão de Florianópolis.

Eram 20h. Entrei no ar, nervoso, sem teleprompter e com um texto que dizia:

“Senhoras e senhores, boa noite. Está no ar, em caráter experimental, devidamente autorizada pelo Governo Federal, a Rádio e Televisão Cultura S.A, que transmitirá a programação da Rede Tupi de Televisão. Nossa primeira atração: Informe Cientifico, um filme cedido pela embaixada americana no Brasil”.

E o telefone não parou de tocar. Começava a escrever a partir daquele momento a historia da televisão em Florianópolis.

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Vinte dias depois, em meio a filmes e programas ao vivo para treinar o pessoal e adaptar a imagem da emissora, pedimos ao governo autorização para retransmitir a final da Copa do Mundo do México, sem veiculação de comerciais.

Autorizados, recebemos a imagem do pool de emissoras brasileiras que pela primeira vez mandava imagens para o Brasil ao vivo e via Embratel, ainda em preto e branco. No estudo nos altos do Morro da Cruz, fiz às vezes do âncora que entrou antes, no intervalo e depois do jogo, já me adaptando aos comentários esportivos na televisão.

Um sucesso.

A cidade parou. Imagem local, som de qualidade, narração, para nós pela primeira vez, bem diferenciada do rádio. Geraldo José de Almeida, um dos narradores do pool, marcou época quando do momento do gol: “Olha lá.. Olha lá.. Olha lá..” Mais ou menos o que Galvão Bueno faz hoje com o seu “Olha o gol.. Olha o gol…”

O futebol

Nossa seleção, do meio para frente, era imbatível. A defesa tinha suas deficiências, a partir do goleiro Felix, muito contestado mas que acabou salvando o Brasil em alguns jogos. E os especialistas da época questionavam; “Como vamos ser campeões com Brito e Piazza na zaga? E fomos.

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Sejamos justos: João Saldanha deixou a seleção quase pronta em 1969, quando entrou em choque de postura com o então presidente da República Emilio Garrastazu Médici. O presidente havia criado uma imagem popular quando apareceu no Maracanã e foi fotografado com um radinho no ouvido e vibrando com um gol. Foi o suficiente para querer palpitar sobre a escalação da seleção sugerindo que Dario tinha lugar no comando do ataque. João, atrevido, respondeu que não dava pitaco no Ministério, nem o presidente na Seleção. A historia daí pra frente todos conhecem, com Zagallo substituindo João Saldanha, que era bom de futebol, mas militante do Partido Comunista. Isso, para o governo da época, era uma tragédia.

Particularidade

Nas Eliminatórias em 1969, a Seleção apareceu com uma jogada diferente e de pouco entendimento do torcedor. Nossos escanteios não eram cobrados com bolas alçadas na área. Saldanha criou a saída de bola pelo escanteio para tirar um ou dois zagueiros da área facilitando a entrada dos nossos atacantes no espaço vazio.

O tricampeonato

Após a vitória por 4 a 1 contra a Itália, em 21 de junho de 1970, o povo foi para as ruas e pela primeira vez em Florianópolis viu-se uma carreta com bandeiras e camisas da seleção. E sabe como a TV Cultura transmitiu?

Em 1970 não havia a Beira-Mar norte, e o único prédio alto na cidade era a catedral metropolitana. Assim, era fácil de ver os automóveis desfilando pela Mauro Ramos e ruas do centro da cidade. E as imagens?

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Por uma janela existente no estúdio, com uma câmera de boa lente, estava no ar a festa do tri campeonato.

A emoção

Quando tudo terminou fiquei analisando o que tínhamos feito. Não sabia se havia agradado ou não. Depois da passeata, já no domingo a noite, o público começou a ligar para a televisão cumprimentado pela iniciativa de ter feito a transmissão ao vivo da decisão do tricampeonato.

Claro, entre a emoção da transmissão com nossa participação, a alegria do tricampeonato, o futebol apresentado pelo Brasil, em cima de uma grande conquista estava nascendo um poderoso canal de televisão que viria a marcar a sua historia com grandes eventos, especialmente no esporte.

Em tempo

Ao contrário do que muitos pensam, não foi a Copa de Pelé. Sua importância é inegável. Com o título de furacão da Copa, Jairzinho, pela sua impetuosidade, personalidade, chamando a si alguns jogos; Rivelino, pela presença nos lances decisivos, e Gerson, com lançamentos notáveis, fizeram mais que a diferença.

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Pelé em campo já significava dois jogadores adversários a menos, que tinham de se ocupar do Rei.

Enfim, quando paro para pensar na conquista do tri, lembro que em 1970 jamais imaginava que estaria ao vivo no pentacampeonato em Yokohama, no Japão. 

Não só o tri está completando 50 anos mas a entrada da TV de Florianópolis no ar, também.

Seguiram-se outras copas memoráveis, mas a do México em 1970 além da vitória brasileira, marcou o início da nossa história na televisão.