Dez dias após o término da Copa da Rússia ainda está em minha lembrança, e muito marcante, o trabalho realizado dentro das melhores condições profissionais que tive em todas as coberturas anteriores. Sinto saudade do país, do seu povo, do futebol, dos casos inusitados e dos desafios que superamos. Fizemos o melhor dentro da nossa limitação, pois as condições dadas pela empresa foram as melhores de todas as Copas.
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Elenquei situações vividas em cinco cidades da Rússia, sejam de beleza, trabalho ou de surpresa em um país que nos encantou.
1. Rostov-On-Don
Nossa chegada foi no sul da Rússia. Depois de quase 15h de viagem, ainda encontramos forças para tentar produzir algumas imagens noturnas da primeira cidade da Copa. Havia muitos restaurantes, gente alegre e um palco onde se apresentavam artistas locais na beira do rio. Vimos homens e mulheres dançando e fazendo gestos que mais pareciam de um ato sexual. Com os braços abertos, movimentavam-se em um vai e vem e eu não entendia nada. Até perceber que o cantor no palco cantava animadamente a música de Michel Teló “Ai se eu te pego” em russo. Jogaram-me na roda e me vi fazendo os mesmos gestos do cantor brasileiro, meio que ridiculamente. Pensei: “Comecei bem”.
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2. São Petersburgo
A segunda maior cidade da Rússia, com mais de 5 milhões de habitantes, é tão linda que me lembrou um pouco Paris. Católico, fui conhecer a catedral católica ortodoxa, um belíssimo monumento por fora e não menos bonita por dentro. Entrei na metade do que parecia uma missa. O padre estava de costas para os fiéis, que a todo instante se benziam de uma forma diferente do católico apostólico romano. Da metade pra frente da cerimônia sai o padre e entra um patriarca. Aí quem fica de costas é o fiel.
Cansado, em pé e sem entender nada, resolvi me encostar em uma pequena estátua em forma de um ser humano, trajada como se fosse um padre bem barbudo. Encostei e resolvi puxar a barba. Ledo engano: não era estátua. Era um segurança da própria catedral e tinham vários por toda parte. Pois o homem deu um gritinho de dor chamando a atenção de todos. O suficiente para me mandar da missa com medo de ser preso ou algo parecido.
3. Moscou
Nossa chegada à capital foi um desbunde. Linda cidade, muito mais do que imaginava. A primeira providência foi ir à Praça Vermelha e conhecer o Kremlin. Chegamos e paramos em frente à Catedral de São Basílio, onde dois nordestinos discutiam em voz alta sobre o nome do santo da igreja. “É São Basílio”, dizia um. O outro argumentava: “Que nada, é São Basílico”. Estar em Moscou e não ir à Praça Vermelha é como ir a Roma e não ver o papa. Em Moscou encontrei o manezinho Jairo de Souza, que produziu uma música em homenagem à Rússia, um hino. Ele me disse que havia um coral de 80 manezinhos. Quando nos encontramos, não tinham mais que oito coralistas. O hino era inspirado na música Tema de Lara, do filme Doutor Jivago. E foi juntando gente e mais gente. De repente, quase atingimos os 80 cantores. Todos foram no embalo da música.
4. Samara
Desta cidade guardo duas recordações. Nosso guia era um angolano, jovem, estudante de ciências e projetos de construção aeroespacial. Ele nos levou à praia, que na verdade era um rio com uma faixa de areia muito maior que das nossas praias. Estava repleto de pessoas. As mulheres usavam biquínis pequenos, não muito diferentes do Brasil. Com a câmera próxima e o microfone nas mãos, achei que iria arrebentar, que as russas não poderiam me ver. E o angolano sempre ao meu lado. Foi então que percebi que a euforia das moças, as fotos e as filmagens não tinham nada a ver comigo, mas com o rapaz. Depois ele confessou que às vezes chega a se esconder. As russas acham algo diferente a cor da pele do angolano e são apaixonadas por eles. E eu de novo no escanteio.
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A outra lembrança foi conhecer o centro espacial de Samara, outro momento fantástico da cobertura da Copa. Lá fomos produzir uma crônica sobre o foguete que levou o primeiro homem ao espaço, o russo Yuri Gagarin, em 1961. Logo na entrada havia uma réplica do gigantesco foguete construído em Samara.
O duro foi experimentar a comida dos cosmonautas. Encarei, e passei mal. Com quase 40 graus na sombra e estava com aquela pasta no estômago. Mas valeu a pena.
5. Kazan
Uma das cidades mais lindas da Rússia. Vi um segundo Kremlin (fortaleza), cheio de igrejas entre os muros, um complexo arquitetônico e histórico que é classificado pela Unesco como patrimônio da humanidade. O estádio parecia um planetário e à noite, ao lado de um rio, estavam casas de espetáculos com shows ao vivo, em todos os restaurantes inclusive. Nesta cidade fui entrevistar no calçadão uma repórter russa que acabou me entrevistando. Ninguém entendeu nada. Nem ela e nem eu. A entrevista terminou abruptamente. Ela baixou o microfone, o cinegrafista baixou a câmera e pelo jeito ela deve ter dito algo parecido com um “assim não dá, não sei nada do que ele está falando”.
A Copa na Rússia foi a mais organizada de acordo com a própria Fifa, com o que concordo. Estádios belíssimos, segurança fortíssima, a ponto de deixar o público bem longe dos estádios, fazendo-os caminhar muito para chegar aos portões.
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Tivemos grandes momentos, como a entrevista com o Galvão Bueno no Debate Diário, com o Juca Kfouri para o Noticia da Manhã e com Muricy Ramalho aqui no NSC Total. Acho que o ponto negativo foi apenas a eliminação precoce do Brasil, nas quartas de final. No mais, foi nossa melhor cobertura de Copa.
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