Silvio Roberto Vieira era um soldado da PM. Alegre, inteligente, curso de redator auxiliar, cinco filhos do primeiro casamento, um deles baleado no peito confundido com um traficante. Silvio vivia numa situação financeira nada agradável. Um belo dia recebeu a informação de que o Governador do Estado, Espiridião Amim, havia assinado um aumento para a Polícia Militar que estaria na folha de pagamento do mês.

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Mudança de rumo

Feliz da vida foi ao quartel e obteve a triste notícia de que o aumento não estava na folha e não havia nenhuma informação. Fim de tarde ele saiu para tomar uma de boa procedência e se perdeu. Voltou ao quartel à noit, rendeu o armeiro, pegou cinco armas, subiu o Morro da Cruz e foi direto para a RCE-TV.

Era uma segunda-feira de maio, penso que dia 12. Naquela noite havia o programa Terceiro Tempo, sob nosso comando e com muitos convidados. Uma audiência garantida na cidade e no estado.

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A chegada

Pois quando estou abrindo o programa anunciando os convidados o técnico Jorge Ferreira, o fisicultor Humberto Ferreira, o diretor do Figueirense Antonio Paulo Remos, o comentarista Miguel Livramento e o repórter Hélio Costa, eis que chega ao estúdio Silvio Roberto Vieira.

Antes deu um tiro na parede da portaria. Com ele, o armeiro e o segurança da televisão Abner Gonçalves.

Ameaçou a todos, pediu que não tirassem a TV do ar e deu um tiro na parede entre eu e o Jorge Ferreira. Claro, não havia munição, apenas o barulho do click. Mas, e o susto? Começou o drama.

O aumento

O que queria o soldado? Cobrar o governador do Estado o aumento prometido. Estava fora de si. Ameaçou se matar no ar, chegou a colocar o revólver na cabeça e atendeu nosso pedido.

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Os componentes da mesa tentaram falar com ele e só eu consegui entender o que ele queria. O que queria? Que alguém apoiasse o seu gesto. Entendesse sua situação. 

Sentou a meu lado, pedi que colocasse as armas no chão, ele atendeu todos os meus pedidos. Mandei trazer um café, água, e aos poucos foi se acalmando.

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O comandante

32 minutos de papo furado, segurando a barra sem saber o seu final. Para participar do programa, estava nos estúdios da TV Eldorado em Criciúma, o presidente do tigre Moacir Fernandes, o comentarista Milioli Neto e o técnico Zé Carlos.

Chega o Cel. Eugenio Uriarte, comandante do batalhão do soldado. Atirador de elite, integrante da seleção brasileira de tiro, Uriarte chegou acompanhado de oficiais. Levaram Silvio para o quartel, onde dizem outros soldados que não quiseram depor que ele apanhou muito.

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O julgamento

Silvio foi a julgamento presidido pelo Cel. Univaldo Correa. Foi defendido por Fernando Carioni, hoje desembargador aposentado e Taltibio Del Vale Y Araujo. Fui integrante do júri arrolado pela promotoria.

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A sentença

Silvio foi expulso da PM e pegou 4 anos de prisão cumpridos em casa. O resultado foi considerado uma vitória pelo ocorrido. 

Um ataque cardíaco fulminante matou o nosso ex-soldado às 4h da manhã desta segunda feira-dia (1º), em Florianópolis. O sepultamento foi no Itacorubi.

História

Silvio Roberto Vieira entrou para a história da televisão ao protagonizar o programa de maior audiência até hoje na TV. A cidade parou naquela noite. O Brasil ligou para a televisão e até a BBC de Londres nos entrevistou. A imagem do comandante Uriarte com o revólver no pescoço do soldado rodou o mundo.

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Virei seu amigo e o encontrei no centro da cidade algumas vezes. A história dele merece um livro por tudo que passou.

Assista ao vídeo da invasão ao estúdio