Qualquer manezinho das antigas tem história para contar sobre o nosso cartão postal. Ali aprendi a dirigir um automóvel, antes de ela ser asfaltada, ainda com duas pistas de madeira, que o motorista não podia sair, principalmente em meio a chuvas, para evitar derrapadas que levariam o veículo a bater nas laterais.

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Em 1973, quando Santa Catarina entrou no Campeonato Brasileiro, vivemos engarrafamentos homéricos. A presença de um clube carioca, por exemplo, para jogar às 21h, obrigava-nos a deixar a Ilha em direção ao Estádio Orlando Scarpelli às 17h, no máximo, para chegarmos perto das 20h.

Em um jogo do Figueirense contra o Botafogo, levei para o estádio o árbitro Armando Marques e o narrador da TV Record, Silvio Luiz. O engarrafamento se dava a partir da Rua Felipe Schmidt, que encontrava a Avenida Rio Branco e aí parava tudo. Chegamos em cima do horário do jogo, com os caroneiros reclamando de tudo e de todos.

Domingo de clássico era um sufoco. Em construção na época, a ponte Colombo Salles foi inaugurada em 8 de março de 1975. Claro que o número de veículos era bem menor que o atual na cidade, mas não lembro de um acidente da ponte Hercílio Luz, que foi palco de um episódio histórico.

Como Foi

Havia um meliante foragido da polícia gaúcha que barbarizava Florianópolis. O delegado Coronel Trojillo Melo, homem rígido, disciplinador e valente, foi solicitado a caçar o fora da lei, conhecido por "gaúcho". Este mandou várias ameaças ao delegado, dizendo que estava na Ilha em iria usar a ponte para a fuga.

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A prisão

Foi montado um projeto priorizando a ponte Hercílio Luz na certeza de que o criminoso passaria. Dito e feito. Noite fria, vento forte, neblina, a polícia inteira nas duas cabeceiras da ponte. O delegado caminhava de um lado ao outro quando deu o estalo. Gaúcho estava atravessando por baixo, pendurado nos ferros.

Chegou até a metade e acabou preso depois de um tiroteio ao melhor estilo “spaghetti italiano”.

Primeira passagem

Meu pai, motorista do governo, lotado na delegacia do Cel. Trojillo acompanhou tudo e quando contava a proeza assustava.

Quando tinha uns 10 anos, me disse: “vamos dar uma volta”. Oba…

"Vamos passar embaixo da ponte".

O quê? Chorei um tempão para não embarcar no carro. Achava que era pelo mar e não entendia como um automóvel vai passar pelo mar. Claro, era uma estrada que ainda hoje existe.

Toque do Bob

> Era muito comum, nas noites sem movimento, casais de namorados nas laterais da ponte. Certa vez, um famoso ilhéu e uma jovem do ramo da comunicação se empolgaram e quase caíram lá de cima.

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> Com o advento do sistema Pal-M — TV em cores no Brasil —, usávamos na TV Cultura a ponte como cenário do telejornal. Imagem ao vivo. Uma câmera no apresentador e outra na janela. Acabamos criando um corpo estranho na notícia, já que a imagem da ponte nas costas do locutor mostrava os veículos entrando e a turma em casa anotando a placa dos carros.

> O fantástico caso de um cidadão que, devidamente acompanhado, entrou na ponte para chegar à famosa Vila Palmira, em Barreiros. Foi identificado pela titular em casa. Separou na certa. Tiramos a ponte do cenário.

> E a ponte está sendo entregue novamente à cidade e ao Estado. Uma segunda-feira de celebração, emoção e quem sabe até preocupação. Já vi alguém dizer que só vai passar nela depois de uma semana. Bobagem.