Quando garoto, tudo que me lembrava do Japão era a tão falada bomba de Hiroshima. De repente, me vejo escalado para cobrir a Copa do Mundo no Japão e na Coreia do Sul. Nervos à flor da pele. Muita imaginação. Lá, tudo é diferente. A começar pelo longo fuso horário que troca a noite pelo dia. Filmes começaram a rodar na minha cabeça e, de repente, Pedro Sirotsky me chama e sentencia: “Faz diferente, arrasa, escreve a coluna de cabeça pra baixo”.  

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Enlouqueci, quase peço demissão. Como fazer isso? Fiquei matutando dias. Até descobrir que a coluna é que seria publicada ao contrário obrigando o leitor a virar o jornal para consumi-la. Alívio. No aeroporto de Narita, em meio a um milhão de pessoas, nos perdemos e fomos salvo por um delegado da Fifa, da Costa Rica, que ia embarcar no mesmo voo e nos levou até a aeronave. Foram 12 horas de São Paulo a Los Angeles, mais 12 horas até Tóquio, outras duas horas até Seul e mais cinco horas de ônibus até a cidade de Ulsan, onde estava o Brasil.

A chegada ao Japão foi através Hamamatsu, onde Felipão havia trabalhado, e no time dele estava o zagueiro Adilson Batista. Fiquei no 50º andar do hotel. Para quem tem problema de altura, não chegava nem perto da janela. Uma passagem por Kobe e me vejo no jogo Brasil x Bélgica no camarote da Fifa. Lá, sem querer, conheci David Beckham com a delegação inglesa, que foi cumprimentar Zico.

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Tóquio, que cidade. Fomos a um jantar onde o prato principal era tomar sopa usando hashi, aqueles dois palitinhos. Passei vergonha. Final da Copa: Brasil x Alemanha, em Yokohama, de 30 a 40 minutos de Tóquio em viagem de trem. Outro formigueiro, com quase 4 milhões de habitantes na época. Resolvi dar uma volta para conhecer a cidade. Motorista rodou tanto que quase me levou de volta a Coreia do Sul. Finalmente: Brasil campeão. Compensador. Agora, não me perguntem sobre as histórias da vida noturna. Impublicáveis.

Imagino o mundo reunido através do esporte nesta Olimpíada no Japão. Por obra e graça da política de João Havelange, a Fifa resolveu fazer a Copa do Mundo pela primeira vez em dois países. A Coreia do Sul se preparou para se mostrar ao mundo. O Japão ignorou. Apenas no centro de imprensa de Tóquio sentia-se o cheiro de futebol. O país não gostou da divisão do evento com os coreanos. Fizeram o trivial sem alarde.

O japonês é ligado no trabalho. Nas andanças pelos trens e metrôs me impressionou o comportamento deles. Ou estão em pé cedendo lugar aos mais velhos ou sentados dormindo, e alguns mexendo no celular. Impressionante é que mesmo dormindo ou mexendo no celular saltam na estação certa para qual estavam indo. Ninguém avisa, nada. Ah, o Japão. Que país!

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Copa América 

Quem sou eu para definir as razões por que o Brasil não ganhou a Copa América. Numa análise profunda e juntando cacos de todos os lados, inclusive declarações do técnico Tite, observações de quem acompanha o dia a dia da Seleção, os jogos, as escolhas do técnico, a forma de atuar… Enfim, dá para se formar a opinião que não vai decidir o futuro da Seleção, mas é expressada por um brasileiro que gosta do futebol que acompanha há 64 anos, inclusive também como analista e se preocupa como o futuro.

É assim que me coloco. Primeiro acho que dentro da comissão técnica, a partir do comandante, não se fala a linguagem do povo, que é com quem o futebol deve se preocupar. Muita sofisticação, linguajar inadequado, preocupação em mostrar nível intelectual, criação de um novo dicionário que poucos entendem, nada parecido com futebol. Vou repetir. Estão enfeiando o futebol e tirando dos nossos jogadores o que eles têm de melhor, a criatividade.

Não temos hoje uma seleção na boca do povo. Dependemos de um único jogador: Neymar. A preocupação com os atletas que trabalham no exterior é muito grande, quando dentro do país temos às vezes opções melhores. Parece que para chegar à Seleção tem que passar pelo futebol europeu. A insistência com alguns jogadores, que há muito tempo não produzem nada quando vestem a camisa verde-amarela, é muito grande e preocupante.

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Dúvidas 

Perguntas que não querem calar: O que têm feito na seleção jogadores como Roberto Firmino, Richarlison, Fred, Renan Lodi, Danilo, Gabriel Jesus, Everton Ribeiro, entre outros? Se o objetivo é projetar 2022, o trabalho não foi bem feito. Thiago Silva vai a próxima copa? E Filipe Luís não deveria estar na Seleção nesta Copa América? Muitos questionamentos.

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E os vizinhos? Ganharam a Copa na fragilidade dos adversários. Também dependem de um só jogador, que não está jogando no nome. Os argentinos passam pelo processo de transição e não motivam da mesma forma que o Brasil. Não há como tirar o mérito da conquista, mas não dá para se empolgar. A não ser comemorar o feito na casa do maior rival.

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