Lá se vão 349 anos de Florianópolis. Ao ver passar mais um aniversário da minha terra natal, um filme desfila pela minha mente para recordar o quanto era feliz a infância da cidade antiga. 

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Florianópolis do campo do manejo onde o 14º BC (Batalhão de Caçadores do exército) hoje 63º BI, realizava seus treinamentos com armas no muro bem ao lado do lago 13 de maio na rua Bulcão Viana. Alí aprendi o gosto pelo futebol. 

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Da venda do João Avila, do açougue do seu Elizeu, da loja de aluguel de bicicletas para aprendiz, do café Otto onde na chácara ao lado roubávamos Caquí, da casa do Airton Oliveira saudoso e eterno diretor de turismo da cidade, da rua Clemente Rôvere e a subida ao morro da Tico Tico, do Curitibanos FC dirigido pelo meu Tio Avhay, enfim, alí nasci e dei os primeiros passos. Vi nascer a Avenida Mauro Ramos. Hoje o campo é habitado pelo Instituto Estadual de Educação. 

Os morros 

E quem nasceu por alí sabia o que era brincar nos morros principais da cidade a partir do Mocotó. Lá por cima passeávamos pela Tico Tico até chegar ao Morro do Céu, onde está hoje a comunidade de Monte Serrat, a Copa Lord e a rua General Vieira da Rosa, que dá acesso ao Morro da Cruz. Pequenos campos existiam onde se jogava bola rodeado de pés de laranja, limão, mamão entre outras frutas. 

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Campo do Liga 

Dois locais nos levavam no dia da criança para horas de lazer. Ou subir o Morro da Cruz, sem estrada, pela trilha no meio de um matagal ou no campo da liga de futebol. A referência, claro, era pelo depois famoso Adolfo Konder, onde hoje é o shopping da cidade. 

Praia 

A dos ricos era o praia Clube (praia da Saudade) em Coqueiros. A dos pobres era Bom Abrigo (popular). 

Os meninos do campo do manejo e morros vizinhos preferiam mergulhar no trapiche da capitania dos portos, no Miramar, e alguns mais arrojados viam a praia do Muller (Trapiche) hoje Beira-Mar Norte.

Banho de mar no aterro da baia sul, próximo ao antigo DNER também. Não havia praia. Era mergulho mesmo. No Miramar da Praça XV a turma ia no final de tarde para pegar moedas que os frequentadores jogavam para ver a gente mergulhar. 

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Coreto

Missa na Catedral celebrada pelo Monsenhor Frederico Hobold aos domingos, às 8h, com direito a distribuição de pão com patê pela igreja. Durante no dia, futebol e, às 19h, sessão no Cine São José para posterior footing na Praça XV. Outros preferiam a banda Amor a Arte desfilando sua retreta no coreto da praça. Que saudade!

Movimento 

Florianópolis tinha as charretes do Seu Opuska, cujo ponto era ao lado do mictório público em frente ao Miramar. Quando saía a turma largava pendurada na traseira da charrete. 

Quando o velho Opuska percebia, haja chicotada pra todo lado. Não se usava o termo Taxi. Era carro de praça e só existia o ponto da Praça XV. Seu Numas era o mais velho. Walmor Carpes que trabalhava para a FCF e Valmor do Bonzinho eram os populares. 

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Comércio 

No centrão da cidade a Lanchonete Vics, as Casas Victor e Regina do mesmo proprietário, a Modelar do seu Jaques Sheweider, galeria das sedas do Jorge Barbato, Casa américa do Seu Kertners, Miscelania, Confeitaria Chiquinho, Lux Hotel, enfim, aquele centro da Felipe Schmidt com Trajano era o nosso Time Square. O tempo foi passando e mudando tudo. 

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Antigamente 

Nas redes sociais já vi algo em torno de “ser manezinho”. Perguntas são feitas e se você responder um determinado número pode se considerar mané. 

Já foi a sessão das moças no cine Ritz? 

Conheceu o Cine Imperial, Roxi, São José? 

Tomou Crush, Pureza, laranjinha Max Wilhelm? 

Comeu a empada do Chiquinho? 

Atravessou a velha ponte Hercílio Luz a pé? 

Viu a construção dos edifício das Secretarias e das Diretorias? 

Conheceu o campeonato citadino com Paula Ramos, Bocaiúva, Atlético Catarinense, Guarani, São Paulo, Tamandaré, além de Avaí e Figueirense? 

A relação é muito grande. Como sou do tempo em que para chegar à praia da Joaquina atravessávamos as dunas (sem estrada), então sou mané. 

Cidade 

Repito: Floripa bucólica, tranquila, sem trânsito, sem violência, romântica, da procissão de Passos, do Carnaval na Praça XV, das grandes sociedades, dos bailes carnavalescos, do encontro Lira e Doze às 9h na frente da Catedral, do Rei Momo Lagartixa, Rui Neves, Cristina Figueiredo, Avez Vous, Armandino Gonzaga, Helio Norberto da Silva, Dona Geninha, Roleta, do Guido dos Bororós e de Celso Pamplona a vênus platinada. 

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E a TV? 

Em 1970, às 20h, entrava no ar o primeiro canal de TV oficial em caráter experimental: Rádio e Televisão Cultura S/A. Era a TV trazendo gente mais perto da gente. 

Do Morro da Cruz se via isoladamente o prédio mais alto da cidade, a Catedral. Hoje não está mais a vista. Ajudamos a fazer aquela história em meio a erros e a acertos na certeza de que a TV veio para ficar. Ficou. 

Hoje 

Ainda podemos dizer que Florianópolis é a melhor capital do país para se viver. Com os problemas naturais que procuramos superar no dia a dia, a Florianópolis que o professor Nereu do Vale Pereira tão bem retrata, do boi de mão, do terno de Reis, do Zé Pereira do Ribeirão da Ilha, Quem viveu a velha capital sabe que viveu sua melhor época.

Saudosista? Sim. Andava descalço até porque não tinha sapato mesmo, só aos domingos, calça curta, usava Glostora no cabelo, Gilette quando a barba apareceu, camisa ban-lon, japona comprada na Modelar em 24 vezes, tomava beijo frio da sorveteria do Barão, o primário no Grupo Escolar Lauro Muller, há como era bom. 

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E os seriados de sábado e domingo no Roxi? Antes até no Cine Odeon, hoje Teatro Álvaro de Carvalho. Melhor parar por aqui e celebrar os 349 anos da querida terra natal.

Dia 23 de março de 2022, parabéns, Floripa!