O Nordeste tem a histórica indústria da seca. O modus operandi é conhecido: o político da região aparece como salvador da pátria com o caminhão-pipa a cada período de seca, angaria os votos necessários para a sua reeleição e faz as contratações de emergências para cisternas.

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Ao político, numa perspectiva histórica, nunca interessou resolver o problema. Com a seca, o político resolve o problema dele. Se reelege e ainda faz as compras com dispensa de licitação, às pressas, e de forma muitas vezes duvidosa quanto à lisura do processo. Normalmente, nessa correria, o foco é “ajudar” a população e o chamado controle interno ou externo das compras fica em segundo plano. Existe a solução técnica para o problema, mas isso não interessa, justamente porque resolve o problema.

Olha o caso de Israel, um país que é um milagre, sem nenhum recurso natural e rodeado de inimigos. Não só produz água dessalinizada, como também exporta aos vizinhos. A mais recente descoberta deste fascinante e inovador país foi transformar o ar em água, numa pequena máquina.

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Se o Nordeste tem a sua indústria da seca, Santa Catarina tem a indústria da enchente. As enxurradas são previsíveis e marcam a nossa história. Tubarão (1974) e Blumenau (1983/84), e todas as mais recentes e dramáticas ocorrências, principalmente no Vale do Itajaí.

Da mesma forma, elas são previsíveis, há solução técnica e pouco avançamos. Enquanto isso, o ritual se repete: as autoridades colocam o jaleco laranja da Defesa Civil, sobrevoam as áreas de helicóptero para a foto com o ar de preocupação, providenciam abrigos, arrumam lonas, distribuem telhas e liberam o FGTS.

Isso sem falar quando dispensam as licitações, de igual forma aos nossos irmãos do Nordeste, e contratam de forma emergencial. É uma farra com dinheiro público.

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Enquanto isso, o Monitora Fiesc aponta que 100% das obras de enfrentamento às enchentes estão paradas.

O que de fato precisamos são as barragens, canais extravasores, drenagem pluvial e galerias pluviais, além de cidades planejadas, fiscalização, proteção ambiental e um bom sistema de alerta.

O que fizemos nos últimos anos? Investiu-se nos importantes radares e construímos prédios onerosos para a secretaria de Segurança Pública e a Defesa Civil, enquanto o mundo cabe na mão na tela de um celular.

Quando estive na Defesa Civil de Tóquio me chamou atenção as fotos da metrópole japonesa com a água nos telhados das casas. As fotos eram em preto e branco. Perguntei o que era. Era Tóquio, há cem anos.

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Quando chovia, a cidade ficava submersa. Há cem anos, o poder público japonês chamou os especialistas da época e perguntou qual era a solução técnica: canais extravasores.

Eles fizeram. Tóquio nunca mais sofreu com as mesmas enchentes.

E nós, teremos que esperar 100 anos?

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