A maioria da população catarinense não conhece os vinhos de altitude. É uma lástima. São vinhos de muita qualidade, mas, infelizmente, não cabem no bolso de grande parte da população.

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A renda média do catarinense é de cerca de R$ 1,6 mil, convenhamos que é muito pouco para comprar uma garrafa com custo aproximado de R$ 150. Caso tivesse mais incentivos, o preço poderia baixar, aumentando a escala de produção devido à procura maior, gerando mais empregos e renda nas regiões produtoras, em especial na Serra.

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A coluna conversou com o jornalista, editor e produtor de vinho, Acari Amorim, sócio-fundador da Quinta da Neve, vinícola pioneira na serra e ex-presidente da Associação dos Produtores de Vinho. Ele fez apontamos sobre o cenário em SC. Confira:

Qualidade na produção

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Os caros vinhos da altitude catarinense são de pequenas produções. Produzidos de forma artesanal, com colheita manual, sem nenhum uso de maquinário para não ferir as uvas e evitar assim a oxidação. Muitas vinícolas separam grão por grão antes de colocar no barril de inox para fermentação. O Pinot Noir da Quinta da Neve sempre foi feito assim. Por isso, ganhou quase todos os prêmios nacionais e internacionais. Nunca foram produzidas mais de 10 mil garrafas deste vinho por ano.

Já os vinhos baratos chilenos e argentinos são produzidos para mais de 10 milhões de garrafas por ano. Só a chilena Concha y Toro produz nada menos do que 400 milhões de garrafas por ano. Dá para imaginar que todas essas garrafas de vinho são feitas só com a fermentação das uvas? Todas as grandes vinícolas chilenas e argentinas colhem as uvas com máquinas.

Contrabando

Todos os dias entram carretas e carretas de vinhos por contrabando da Argentina e do Chile. Você encontra aqui por R$ 70 a R$ 80.

Impostos

Uma garrafa de vinho produzida no Brasil contém 65% de impostos. Essa é a mesma carga tributária de uma cerveja industrial, que se aperta um botão de um lado e de outro sai 100 milhões de garrafas em menos de uma hora. Já para produzir uma garrafa de vinho você tem que passar um ano inteiro cuidando das parreiras, sujeito a todos os fenômenos climáticos, que não são poucos.

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Depois de um ano, após a colheita, vem a fermentação em tanques e em barris de carvalho francês, num tempo de seis meses a um ano. Os produtores de vinhos são muito incompetentes para explicar isso ou os tributaristas brasileiros são cegos e surdos.

Comparação

Por tudo isso, os vinhos de altitude podem ser considerados caros. Mas creio que você sabe, os bons vinhos argentinos e chilenos também são caros. A Concha y Toro, que está entre as maiores vinícolas do mundo e produz em grande parte vinhos de baixa qualidade, é a responsável também pelo Don Melchor. Na vinícola, você paga 100 dólares por uma garrafa.

Santo de casa

O problema é que o brasileiro acha que qualquer vinho de fora do país é melhor do que daqui. Não é bem assim. Se for fazer relação custo-benefício, os nossos vinhos têm preços honestos. O que se precisa atacar mesmo é a carga tributária, para que o consumidor tenha acesso ao vinho com preço mais acessível.

Vida no campo

As regiões onde são plantadas parreiras e produzidos vinhos, são as mais desenvolvidas e ricas em quase todo o mundo. É a atividade que mais prende famílias no campo. Tanto é que tem vinícolas com mais de 10 gerações. Posso citar a importância da produção de vinhos em São Joaquim. Em menos de 15 anos o PIB da cidade pulou de R$ 160 milhões para R$ 858 milhões, graças ao incremento no turismo como um todo, mas que teve grande ênfase nas vinícolas e nos vinhos da altitude.

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