O brasileiro não compreende a importância e a potencialidade das barragens. A opinião é do presidente do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), Miguel Sória, em entrevista exclusiva concedida à CBN Floripa na última terça-feira (10).
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Nesta semana, em meio a enchente que atingiu Santa Catarina, o leitor acompanhou as polêmicas envolvendo a abertura ou não das comportas nas barragens de Taió e José Boiteux. São decisões que precisam ser técnicas e não políticas, e que precisam levar em consideração, de forma prioritária, a preservação da vida, e, depois, questões ecológicas, econômicas e sociais.
Chuva castiga Taió:
Segundo o Relatório Anual de Segurança de Barragens de Santa Catarina (2022), do governo do Estado, são 59 equipamentos (56 ativas e três desativadas). Anaximandro Muller, engenheiro civil e especialista em hidrologia, afirma que o número de barragens é insuficiente em Santa Catarina para controle de inundação.
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A bacia do Rio Tubarão, por exemplo, não possui nenhuma barragem. No momento, em todo estado, três barragens importantes estão em discussão há anos e não saíram do papel. São os casos de Mirim Doce, Petrolândia e Trombudo Central.
De fato, falhamos como sociedade e poder público na incapacidade de alcançar uma agenda mínima, um consenso para avançar em questões importantes como as barragens. É difícil, complexo, envolve regiões ribeirinhas, muitas vezes comunidades indígenas, meio ambiente, interesses econômicos e políticos. Lidar com isso dá trabalho. Mas é um trabalho que precisa ser feito.
Será que é tão difícil avançar protegendo as comunidades e os mais pobres do entorno ? Separando o joio do trigo e afastando oportunistas sem legitimidade que alegam defender causas nobres ?
Miguel Sória, presidente do CBDB, aponta que a América do Sul é o lugar que mais chove no mundo. Enquanto que, segundo Sória, a média mundial é de 900 mm/ano, por aqui se aproxima dos 1800 mm/ ano de chuva. Desperdiçar essa riqueza toda não é razoável.
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Até porque, são seis objetivas potencialidades, no mínimo, das barragens: contenção de cheias, consumo humano, irrigação, energia, navegação e pesca.
— Nós poderíamos ter soluções prévias. Formar reservatórios ao longo de algumas bacias e administrar esses caudais para quando a chuva vier forte, reter nestes reservatórios. Não há como fazer um omelete sem quebrar os ovos, mas os ganhos são superiores às perdas. Estas estruturas são fundamentais. A falta delas traz mais prejuízos do que benefícios. Entendo que, a partir da abundância de recursos, é mais inteligente que se use as barragens em benefício próprio, mas não temos isso de forma efetiva. É preciso que isso ocorra de forma técnica e científica — afirma o presidente do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), Miguel Sória.
Não é possível que se discuta esse assunto apenas em momentos de enchentes. Neste caso, é gestão de crise e não planejamento estratégico.
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