O professor titular do curso de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lauro Mattei, diz que está equivocada a análise da evolução da Covid-19 feita pela pelo governo estadual. Na segunda-feira (29), o governo divulgou que no intervalo de duas semanas houve a queda de 22% dos casos ativos. Entre os dias 14 de março e 28 de março, o total de pessoas com o vírus em fase de transmissão passou de 37.119 para 28.963.
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Na ocasião, o governador ainda era Carlos Moisés da Silva. Segundo ele, a queda ocorre de “maneira sustentada” e é fruto das medidas adotadas pelo Estado, como para evitar aglomerações e aumentar o distanciamento social. Vale ressaltar, entretanto, que a média baixou principalmente pelas medidas mais restritivas adotadas pelos municípios, como nos casos de Chapecó e Lages, por exemplo. Mattei, em análise dos indicadores do mês de março aponta “ inconsistência da leitura feita pelas autoridades governamentais”.
Ele cita a evolução da média semanal móvel de casos em março de 2021. O dado é importante porque auxilia na normalização das informações que podem ser afetadas pela redução de registros, especialmente nos finais de semana, quando o número de pessoas das equipes de saúde em atividade é reduzido. “Houve poucas alterações na evolução do número de pessoas contaminadas ao longo do mês de março de 2021, uma vez que o registro de novos casos atingiu a marca de 4.442 registros diários ao final do mês, patamar que é apenas 2% inferior ao verificado no início do mesmo mês. Isso significa que, além da evolução da doença ter continuado, ela se mantém num patamar extremamente elevado no estado”.
Ele diz que “houve uma verdadeira explosão de óbitos registrada no estado de SC em apenas um mês, ou seja, em apenas 30 dias ocorreram 3.394 mortes, indicando que aproximadamente 5 pessoas por hora perderam suas vidas. Com isso, nota-se que a média semanal móvel aumentou em 111% (28/03) em relação ao início de março. Esse número absoluto registrado nesse último mês equivale a todos os óbitos ocorridos entre os meses de março e outubro de 2020, isto é, em apenas um mês foram registrados mais óbitos que em oito meses de incidência da pandemia.”
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Outro ponto que preocupa o pesquisador é a evolução do Coeficiente de Incidência da doença no estado:
Esse coeficiente indica o número da doença por cada 100 mil pessoas em um determinado local e período. Na essência, tal indicador mede a frequência de uma doença em um determinado local, auxiliando na adoção de medidas necessárias para o controle da mesma. Quanto maior for esse coeficiente, maior é o número de pessoas contaminadas na localidade. Os dados revelam o alto grau de contaminação da população de Santa Catarina pela Covid-19, uma vez que o estado apresenta há meses o quarto maior coeficiente de incidência do país, ficando atrás apenas do Amapá, Roraima e Distrito Federal. Quando se compara o coeficiente de Santa Catarina em relação ao Brasil a cada 100 mil habitantes, nota-se que o estado catarinense tem um coeficiente de incidência da doença de 1,87 vezes ao país. Quando se compara ao coeficiente da região Sul do país, cuja geografia e condições econômicas e sociais são muito semelhantes, observa-se que SC tem um coeficiente de 1,36 vezes ao da região Sul, sendo que esse coeficiente é 2,24 vezes o menor resultado observado na região Nordeste. ….Esse é mais um indicador que revela a evolução desenfreada da doença em todo o território catarinense, não cabendo neste momento análises pontuais e equivocadas sobre o processo contaminatório. Ao contrário, o que essas informações estão dizendo é que o vírus continua circulando livremente no estado, inclusive revelando que os mecanismos de controle adotados até o momento não estão sendo suficientes para evitar a continuidade do contágio.
Mattei afirma que o conjunto de informações revela que a situação da pandemia em SC “se agravou muito no mês de março, indicando claramente que as medidas adotadas até o momento ainda não surtiram os efeitos necessários para achatar a curva de contágio. Mesmo com uso de um indicador frágil (casos ativos), o (então) governador tentou passar uma ideia de que a pandemia está sob controle. Além disso, o próprio comportamento do indicador utilizado pelo governador não está mostrando nenhuma tendência sustentada”.
Ele concluiu o estudo apontando que os indicadores mais relevantes (média semanal móvel de casos, evolução do Rt e média semanal móvel de óbitos) continuam apresentando uma tendência robusta de crescimento, implicando na necessidade de mais medidas preventivas para reduzir a curva de contágio da população catarinense e, com isso, abrir a possibilidade para uma redução também do número de óbitos.
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