O presidente Jair Bolsonaro disse na última terça-feira, dia 5, que o Brasil está quebrado. “Chefe, o Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter”. Culpar a mídia é um esporte antigo. Nada de novo. Velha tática para transferir a responsabilidade de algo que não se conseguiu resolver.
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>’Brasil está quebrado e eu não consigo fazer nada’, diz Bolsonaro
Na quarta-feira, dia 6, em tom de ironia, depois da repercussão da declaração no dia anterior, voltou ao assunto. “Confusão ontem, você viu? Que eu falei que o Brasil estava quebrado. Não, o Brasil está bem, está uma maravilha. A imprensa sem vergonha, essa imprensa sem vergonha faz uma onda terrível aí. Para a imprensa bom estava Lula, Dilma, gastava R$ 3 bilhões por ano para eles”, finalizou.
Essa tese é tão fraca que basta olhar as manchetes quando das crises enfrentadas por Lula e Dilma Rousseff para ver se a mídia profissional aliviava. Dê uma pesquisada e confira. É fato: não aliviava, nem um pouco. Basta pesquisar sobre mensalão, Lava-Jato, triplex do Guarujá e sítio de Atibaia. Olhe e confira.
Mas o que a coluna quer saber é: o Brasil está quebrado? Ouvi representantes de diversas áreas para responder à pergunta. Confira:
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Mario Cezar de Aguiar, presidente da Fiesc
“A situação fiscal do Brasil exige atenção, mas há dados positivos importantes no cenário que não podem ser ignorados, a começar pelo resultado das próprias medidas do governo federal no campo trabalhista, que evitaram o derretimento do emprego e da arrecadação. Especialmente aqui em Santa Catarina, o desempenho da indústria foi fundamental para a recuperação da economia em 2020.
O que o país precisa para crescer de maneira sustentada no longo prazo é das reformas estruturais, nas quais o setor empresarial insiste há muitos anos. Simplificar o sistema tributário, desburocratizar, reduzir os gastos públicos, melhorar a eficiência do setor público e investir em infraestrutura são pré-condição para o país poder voltar a investir de maneira consistente”.
Ivan Roberto Tauffer, presidente da FCDL/SC
“O Brasil é uma das maiores economias do mundo, nossas reservas internacionais são sólidas, não temos dívidas elevadas em moeda estrangeira, a projeção do Banco Mundial do PIB brasileiro para 2021 indica uma alta de 3%, mesmo com todos os problemas e desafios decorrentes da pandemia. O mercado brasileiro é forte e com potencial de muito crescimento.
Após a imunização pela vacina, junto com decisões políticas que serão necessárias, com apoio fundamental do Congresso que envolvem a reforma tributária, o país terá condições de voltar a crescer e ter mais equilíbrio econômico e social. Neste contexto, o comércio tem feito sua parte. Em Santa Catarina, com o setor formado principalmente por micro e pequenas empresas, os lojistas buscam uma nova forma de se relacionar com o cliente, mantendo os cuidados sanitários, agilizando a entrega, caprichando no atendimento e valorizando tanto a forma física quanto a on-line, para facilitar o acesso aos produtos.
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O varejo é um dos pilares da economia, as pessoas precisam consumir e com demanda forte, temos economia forte. SC também é privilegiada por uma indústria de referência, em especial o agronegócio, que tem uma contribuição significativa para a economia de todo o país.
Nildo Ouriques, professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSC e presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos
“Nenhum país quebra. Seu povo fica mais pobre, os ricos mais ricos, a economia desnacionalizada, mas quebrar não quebra. Guedes avançará no assalto ao Estado: privatizações, mais subsídios aos capitalistas, mais empréstimos externos para atender ao rentismo. Para o povo? Desemprego massivo, salários em queda, maior concentração da riqueza. Vê? Quebrar não quebra: já é um paraíso para os empresários, nacionais e estrangeiros!”.
Gil Castelo Branco, secretário-geral da Associação Contas Abertas
“Não é a primeira vez que a expressão é usada. O economista Marcos Lisboa disse em um evento que o país está quebrado há vários anos. Se está quebrado, o importante é restaurar. De fato, a situação fiscal é difícil. De fato a economia brasileira está na UTI e de lá não sairá se não tomar as medidas necessárias. Há oito anos o Brasil começa o ano no vermelho, ou seja, gastando mais do que irá arrecadar. A dívida pública em relação ao PIB que era de 56% em 2014, chegou agora, ao final de 2020, a 93% do PIB.
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Muito provavelmente nós continuaremos desequilibrados até 2030. Na melhor das hipóteses, as contas públicas voltarão a se equilibrar a partir de 2026. Nós precisamos da PEC emergencial, a PEC dos fundos, a PEC do pacto federativo e as reformas tributária e administrativa.
Se isso não acontecer, muito provavelmente a nota soberana do Brasil será rebaixada nas agências de classificação de riscos, os investimentos internacionais irão escassear, os nacionais serão postergados e as consequências para o cidadão comum serão a inflação, elevação de juros e o desemprego”.