O Ambulatório Trans, da Prefeitura de Florianópolis, está disponibilizando, via projeto a Hora É Agora, uma vaga para o setor de enfermagem, preferencialmente para pessoas trans ou travestis.

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São 20 horas semanais, com bolsa via Fiotec (Fundação de apoio à Fiocruz), de R$ 2,5 mil por mês.

O início está previsto para dezembro deste ano, e quem se candidatar deve preencher os seguintes requisitos: ter dois anos de experiência prévia e afinidade ou experiência com saúde LGBTIA+.

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A coluna conversou sobre o tema com Kelly Vieira Meira, coordenadora-geral da Estrela Guia, Associação em prol da Cidadania e dos Direitos Sexuais, acredita que a iniciativa é “louvável”.

— Esse chamamento se dá num contexto onde a exacerbação das pautas de costumes recebe tons bastante acentuados e, nós, pessoas trans, sofremos diretamente as consequências desse discurso simplesmente por sermos o que somos. Esse mesmo corpo trans, além de preterido em vários aspectos, encontra no mercado de trabalho inúmeras dificuldades para conseguir reconhecimento e legitimidade de suas capacidades cognitivas/intelectuais pelo pré-conceito referente à identidade. Muitas vezes amostrada no trato transfóbico que recusa a presença de pessoas trans para uma vaga de emprego porque “existiria” um padrão aceitável socialmente.

Sinto-me contemplada/representada por esta iniciativa, considerando sobretudo dois aspectos: (1) a exclusão social que vivenciamos cotidianamente — essa preferência por corpos trans colabora para demonstrar não haver nada de estranho para além do imaginário social que impede esses corpos de circular, ocupar espaços; e, (2) retira do gueto da fetichização, da sexualização extrema, sujeitos de direito que podem operar dentro da normalidade; apresentar suas capacidades laborais sem que sejam desafiados/as por falácias recorrentes de corpos contagiosos (como se nossa existência fosse ferramenta corruptível e recrutadora de outras personalidades. Como se a convivência conosco, pusesse a família em perigo, as crianças em sobreaviso). Lógico que um/a enfermeiro/a trans não irá mudar o pensamento de outrem, mas, sua participação num projeto como esse, colabora para que esse outro o/a reconheça como um vivente, par; e que, também, seus coirmãos/as poderão ter identificação com o espaço, frequentar serviços que recentemente estão mais propensos a corrigirem a ignorância que nos isolou da possibilidade de acesso ao cuidado de si, pelo medo de enfrentar o olhar condenatório que recebíamos. Bem, são muitos os pontos positivos que esse ambulatório traz a pessoas como eu, como muitas e muitos que residem em Florianópolis e região. Pena que isto pode virar moeda de troca na mão de perversos que adorariam desvirtuar o tema e lacrar com suas suposições baratas, relegando-nos à margem — disse a coordenadora da Estrela Guia.

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