A demissão do Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta pode não trazer aquilo que o presidente Jair Bolsonaro deseja, ou seja, reduzir o isolamento social e retomar a atividade econômica. Isso ocorre porque as últimas decisões do Supremo Tribunal Federal dão autonomia aos Estados e municípios para definirem medidas de isolamento. Há o entendimento de que, mesmo liberando as atividades que seguem paradas em várias regiões, como o comércio, bares, restaurantes e o transporte coletivo, os governos estaduais e os prefeitos podem ser mais restritivos.
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Sendo assim, a troca no ministério seria muito mais uma mudança de narrativa. E esta narrativa pode provocar uma mudança de comportamento da população. O prejuízo administrativo ocorre, mesmo assim, porque a nova equipe que chega levará um certo tempo para conhecer a pasta. Espera-se que haja continuidade nos processos de compras e integração com Estados e municípios.
O presidente Jair Bolsonaro faz uma aposta política muito arriscada ao demitir o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. É evidente que seu substituto irá na linha do Planalto. A nova narrativa pode estimular mais pessoas a não respeitarem o isolamento social. Os recados já haviam sido dados por Bolsonaro nas últimas semanas, quando disse que “faltava humildade” ao Mandetta e que os dois “já estavam se bicando”.
Um dos fatores que desencadearam o ato de demissão talvez tenha sido a pesquisa divulgada pelo Datafolha em que mostra aprovação de Mandetta por 76% dos entrevistados, diante 35% de aprovação do Presidente Jair Bolsonaro frente à crise da pandemia de coronavírus.
A entrevista ao Fantástico foi o limite para o grupo ideológico do Planalto.
Difícil de achar uma voz crítica ao trabalho conduzido pelo médico Luiz Henrique Mandetta no trato do enfrentamento à pandemia. É da área, cercado de técnicos competentes, comunicou, sempre, com muita transparência e atendeu inequivocamente às orientações científicas, mesmo sendo a Covid-19 algo novo e sem uma fórmula mágica para combatê-la.
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