Além da economia, que sempre pautou as eleições no Brasil, em 2018, embalado pela operação Lava Jato, o debate foi fortemente influenciado pelo combate à corrupção. Este ano, tudo indica que esse fenômeno não se repetirá.

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De um lado, Jair Bolsonaro. Eleito na onda moralizadora da operação da Polícia Federal “para mudar tudo isso que tá aí”, abandonou completamente o discurso e visivelmente se juntou a quem queria barrar o avanço dos órgãos de controle e do combate à corrupção.

Isso, já antes de assumir, quando a operação Furna da Onça escancarou os desvios das rachadinhas na Assembleia do Rio de Janeiro, envolvendo a família do presidente e uma penca de parlamentares de diversos partidos. Escolheu um Procurador-Geral da República (PGR) fora da lista tríplice, anti-lavajatista e que acabou com a operação; um ministro para o STF por indicação dos enrolados do centrão, que aliás, nunca mandou tanto; retirou o COAF do Ministério da Justiça e abandonou pautas como a prisão em 2ª instância e o fim do foro privilegiado.

Esta última, inclusive, foi a razão apresentada pelo senador Flávio Bolsonaro para anular as suas denúncias no caso das rachadinhas. Há, ainda, as denúncias de aparelhamento da Polícia Federal, com o afastamento de diversos delegados que investigavam assuntos delicados para o governo ou a família de Bolsonaro.

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Os bolsonaristas afirmam que não há escândalos de desvio de verbas no governo federal como nos anteriores. Isso é verdade e merece elogios. Mas, o nome disso é austeridade. Combate à corrupção é outra coisa. Se faz com o fortalecimento e a autonomia das instituições de polícia e controle, e, não é menos verdade que, nesse ponto, houve retrocesso.

Por outro lado, o Partido dos Trabalhadores (PT), em cujos governos ocorreram os escândalos de desvios desbaratados pela Lava Jato. Lula exalta que na sua época a lista tríplice do MPF foi respeitada e a PF teve autonomia para investigar o próprio governo, além da criação da CGU, das leis da transparência e do acesso à informação. Também é verdade.

Mas, preferem atacar os excessos da Lava Jato a fazer um mea-culpa e discutir os graves escândalos do período do PT.

As duas principais forças que despontam até aqui não valorizam o assunto.

Quanto à terceira via, afora uma onda hoje inimaginável, só se consolidará com a união de forças do establishment político, que também não quer saber desse discurso. Até mesmo o ex-juiz Sergio Moro teria muita dificuldade em encaminhar medidas que defende.

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Ou seja, o combate à corrupção está totalmente isolado, para não dizer abandonado. Como plataforma política, praticamente inexiste.

É fato que a operação teve excessos, mas não se pode desvalorizar o seu trabalho e o que ela descobriu de fato, inclusive com as empreiteiras confessando seus crimes e ressarcindo os cofres públicos nos acordos de leniência.

Tudo isso deveria resultar, ao menos, na defesa e fortalecimento dos órgãos e instrumentos de controle. Mas, não. Ao nosso modo, e assim como na Itália pós “operação Mãos Limpas”, o sistema deu a volta na Lava Jato e agora quer vingança. E, dentre os motivos, acrescente-se boa parcela de nossa sociedade, que só se indigna com a corrupção do seu adversário, tratando o assunto com absoluta hipocrisia e interesse político casuístico ou, até mesmo pelo fato de estar entorpecida dentro de uma bolha, cuja a especialidade é desinformar, distorcer e destruir reputações.

Não é o único tema e talvez não seja o principal, mas o combate à corrupção deveria ser tratado com mais seriedade.

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