A economista e pesquisadora Lizandra Flach é considerada pelo jornal alemão Handelsblatt como uma das “100 mulheres que levam a Alemanha adiante”. A publicação do último final de semana foi alusiva ao dia internacional da mulher, comemorado no dia 8 de março. Aos 38 anos, a manezinha é diretora do Centro de Economia Externa do Instituto IFO de Munique (Alemanha) e professora titular do departamento de Economia da Universidade Ludwig-Maximilians-Universität de Munique. Pesquisadora da economia internacional, é considerada um dos maiores talentos em sua área de pesquisa, destaca o Handelsblatt. Lizandra mora há 15 anos na Europa e é formada em Administração pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em conversa com a coluna, ela conta que a crise irá aprofundar a desigualdade na União Europeia, explica como o governo alemão ajuda empresas e trabalhadores na questão econômica e critica a política externa brasileira. Confira a entrevista:
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1. Qual o seu foco de pesquisa no momento?
Minha pesquisa está voltada à área de economia internacional, como por exemplo à análise do efeito de políticas comerciais internacionais no PIB. Dois temas importantes em 2020 foram os efeitos do BREXIT e também da pandemia sobre a economia europeia. Realizamos diversos estudos para o ministério da economia alemão e para a câmara de comércio nessas áreas.
2. É possível mensurar já o impacto da pandemia na economia da Alemanha e na atividade econômica global?
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Grande parte do efeito já pode ser mensurado. Existem efeitos de curto e longo prazo. No curto prazo, nossos estudos no Instituto IFO em Munique mostram redução histórica do PIB em muitos países europeus. A Alemanha acabou sofrendo menor efeito em relação a outros países europeus em virtude de seu forte e altamente automatizado setor industrial. Estes setores tiveram menores perdas com a crise em relação a setores como turismo ou comércio, que são muito importantes para a economia italiana, por exemplo. Mas nossos estudos mostram que a crise atual irá aumentar ainda mais a desigualdade de renda entre os países da União Européia.
Há também diversos efeitos de longo prazo, como por exemplo a perda de renda futura causada pelo gap de ensino, já que as escolas ficaram fechadas por muitos meses.
3- No Brasil há uma polarização intensa entre a necessidade de restrições nas atividades econômicas e a preservação dos empregos, uma dualidade entre pandemia e economia. Isso existe na Alemanha?
Sim, essa discussão também existe aqui, mas a polarização só dificulta o debate, já que economia e saúde não são questões opostas. Com relação à preservação do emprego, uma grande diferença na Alemanha é que aqui existe uma grande rede de proteção social para funcionários e empresas. Por exemplo, a política de “Kurzarbeit”, que garante que as empresas privadas possam dispensar trabalhadores por tempo limitado em tempos de crise, sendo que os funcionários continuam ganhando do governo cerca de 70% do salário. Posteriormente o funcionário volta para a empresa. Isso reduz drasticamente demissões em massa em períodos de crise como a atual.
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4- Qual a sua opinião sobre a política externa brasileira? O país tem adotado uma visão contra globalização, já entrou em atrito com a China e Argentina e não acredita em aquecimento global. Qual pode ser o resultado disso?
Houve, infelizmente, um afastamento das organizações internacionais e instituições, em geral, o que tem dificultado a realização de acordos comerciais. O país precisa restabelecer seus laços diplomáticos e comerciais com parceiros estratégicos, principalmente com os três gigantes China, Estados Unidos e União Europeia, mas também com países vizinhos. As alianças estratégicas ajudarão o país a sair da crise e retomar o crescimento mais rápido.
5- Como os alemães estão enfrentando a pandemia? O país está em lockdown desde antes do natal. As regras são seguidas?
Houve desde o início da pandemia grande aceitação das regras de uso de máscara e distanciamento, além de um posicionamento claro do governo sobre a gravidade da situação e necessidade de reação rápida. Isso facilitou a saída do lockdown e reduziu um pouco a incerteza por parte das empresas, já que elas conseguiram realinhar suas expectativas. Agora, no segundo lockdown desde o Natal, causado pelas mutações do vírus, ainda há aceitação, mas há também a clara visão de que é necessário acelerar a vacinação para voltar à atividade econômica normalmente.
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6 – Você já foi vacinada?
Ainda não, já estamos registrados para receber a vacina. Mas fico muito feliz que meu pai, em Florianópolis, já teve a oportunidade de receber a primeira dose da vacina. É uma dose de otimismo depois de um ano de tantas incertezas.
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