Vamos esquecer o politicamente correto e ver o mundo como ele é. Se a ideia era constranger o governo, fortalecer o ex-ministro Sérgio Moro e encurralar o presidente, foi um tiro no pé. O que se percebeu após a divulgação do vídeo da reunião ministerial foi que Jair Bolsonaro saiu maior do que estava, antes da divulgação do vídeo, e Moro, menor. A explicação é muito simples. Embora tenha citação à Polícia Federal (PF), a parte em que se discute se a fala do presidente aponta intervenção na PF abre espaço para interpretações subjetivas. Em contrapartida, o que foi dito por Bolsonaro e seus ministros traduz o sentimento de muita gente e retoma a narrativa de quem venceu as eleições.

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Quando o presidente afirma que não tem envolvimento com empreiteiras e defende o armamento da população. Quando a ministra da Família Damares Alves critica o aborto e o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, fala em “passar a boiada” para aprovar normas que desregulamentação e simplificação. Por mais que os progressistas fiquem chocados, foi o discurso que venceu a eleição. Esteja isso certo ou errado, foi o sentimento de quem ganhou nas urnas e isso precisa ser respeitado, o que não quer dizer que existe um cheque em branco – havendo crime de responsabilidade, que se investigue e julgue.

O ponto absolutamente inaceitável foi a fanfarronice e descompostura do ministro da Educação, Abraham Weintraub, quando se refere ao STF e fala em “colocar esses vagabundos todos na cadeia”.

Caso ouvissem as nossas conversas de celular ou lessem nossas mensagens de whatsApp, inúmeras amizades seriam rompidas e casamentos terminariam. Um encontro de articulação política ou uma reunião ministerial não é nem nunca foi um colóquio de sábios e puros. O tom do bastidor da política real é esse, a diferença é que esta reunião foi gravada e sua divulgação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal. Por qual motivo o ministro Celso De Mello liberou quase a íntegra da gravação se o foco da investigação é apenas a intervenção na Polícia Federal ? “Matéria de interesse público”, explicou o ministro. O que se viu foi nada mais do que a essência do governo Bolsonaro.

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