Após atravessar um segundo ano terrível e totalmente oposto ao primeiro, o governo Carlos Moisés termina 2020 com uma surpreendente tranquilidade política junto ao parlamento, que nem mesmo o mais otimista de seus apoiadores poderia imaginar.
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No final de 2019, o governo comemorava a conclusão do primeiro ano sem maiores percalços, com uma nova estrutura administrativa e bons resultados fiscais, confirmados inclusive pela análise do Tribunal de Contas sobre o primeiro ano de governo. Entretanto, os bastidores da Alesc já davam fortes sinais de insustentabilidade política, dado ao isolamento e uma absoluta falta de vontade para com os deputados e até mesmo outros setores da sociedade.
A pandemia, e principalmente a vergonhosa compra dos respiradores da Veigamed apenas escancararam a situação. Vieram dois processos de impeachment e o governador chegou ao ponto de, por muitas semanas, ser tratado como uma vítima de um desastre cujo corpo ainda não fora encontrado – ou seja, restava só a formalidade para sacramentar a cassação e sua definitiva morte política. Tanto é assim que, no primeiro processo o mesmo fora salvo por votos técnicos de desembargadores e, principalmente, por um inusitado voto do inimigo Sargento Lima, que tentou salvar a vice-governadora e inviabilizou a tomada de poder pelo grupo político que liderou o impeachment. O segundo processo ainda persiste e deve ser definido em janeiro.
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No entanto, quando poucos acreditavam, e por incrível que pareça, foi durante o breve afastamento que Moisés deu as maiores demonstrações de amadurecimento político e disposição ao diálogo. Escolheu um chefe da Casa Civil com trânsito no legislativo e a resposta já veio com a aprovação tranquila de pautas importantes no final do ano. Mas, na política nunca se está imune a críticas. Desafetos e possíveis “adversários” do governador afirmam que o Estado vive um Parlamentarismo branco.
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Por outro lado, o governador tem enfatizado em suas falas que a sustentabilidade política potencializará os bons resultados já obtidos em diversas áreas.
O fato é que, o grande desafio do governador é consolidar essa viabilidade política sem perder os bons resultados técnicos obtidos em áreas como a Fazenda, Administração e Infraestrutura, que vem entregando obras importantes com recursos próprios em todas as regiões do Estado.
Obviamente, ainda carece e muito de melhora as gestões política e de comunicação do governo com a sociedade e as instituições. A própria gestão da pandemia é um exemplo. É inquestionável que o Estado ampliou em 160% os leitos de UTI, foi pioneiro nas médias de isolamento forte e também um dos primeiros a liberar gradativa e regradamente quase todas as atividades econômicas.
No entanto, além do escândalo dos respiradores, durante toda a crise e sobretudo agora com as regras para a temporada de verão, são evidentes as dificuldades internas e as falhas de comunicação. Por consequência, mesmo com bons números em relação ao restante do país, o governo acumula uma imagem de omissão e incerteza em relação às ações de combate à Covid-19. Boa parte dessa imagem certamente vem das dificuldades de interação e comunicação com a sociedade em geral.
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Politicamente falando, nessa primeira metade de mandato o governador Carlos Moisés já foi do céu ao inferno, enfrentando diretamente do purgatório a pior crise sanitária da história contemporânea mundial. O bombeiro campeão de mergulho em apneia parece não perder facilmente a tranquilidade. A se ver, como ele manterá essa concentração e controle em meio ao mar perigoso da política, que tende a ficar mais revolto com a chegada das eleições de 2022, e onde mais do que ficar parado é fundamental ser um bom nadador.