Com o colapso do sistema hospitalar catarinense nesta semana, o mundo político e da ilusão da rede social criam as suas narrativas com devaneios, desinformação e tentativa de transferir a responsabilidade. A coluna separou alguns pontos que marcaram o debate:
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1: “O Brasil sempre teve problema de fila e gente morrendo nos hospitais”
É verdade que fila de espera por atendimento não é nenhuma novidade no Brasil. A grande diferença, agora, é a escala da espera, o volume de pacientes que demanda por atendimento. Ademais, a fila ocorre por leito de UTI e beirando duzentos pacientes, com dados da última quinta-feira (4). Algo assim, jamais se viu. Na pré-pandemia, cirurgias já eram canceladas por falta de leito para o pós-operatório. Ocorre que, neste momento, no pior cenário da pandemia, a pressão no sistema é muito superior.
2- Onde está o dinheiro que o governo federal mandou e os R$ 33 milhões de reais dos respiradores ?
Foram abertos 787 leitos hospitalares de UTI adulto com ajuda do governo federal e recursos do orçamento estadual desde o início da pandemia em Santa Catarina, um aumento de 160%. Da fraudulenta compra dos respiradores, cerca de R$ 14 milhões já foram recuperados.
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3- “Por que não fazem o tratamento precoce ?”
Na segunda-feira (1), a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou, mais uma vez, que a hidroxicloroquina não deve ser usada para prevenir a covid-19 e não tem efeito significativo sobre pacientes já infectados pelo coronavírus. A recomendação ocorre com base em evidências concretas de 6 estudos científicos que, juntos, reuniram mais de 6 mil pacientes. Não há remédio para Covid-19. O que os estudos já conseguiram provar é que o uso de corticoides e anticoagulantes em determinadas etapas da doença pode trazer bons resultados. Além disso, já se sabe melhor o período adequado para intubação. Mesmo assim, alguns médicos seguem a fórmula cloroquina, ivermectina, azitromicina, vitamina D e zinco. Alegam experiências observacionais com bons resultados. Entretanto, não há eficácia comprovada e tampouco respaldo da imensa maioria das entidades médicas mundo afora. Você acredita, realmente, caso houvesse remédio ou tratamento precoce, que nós teríamos este número de casos, internações e mortes mundo afora?
4- “Já se provou que lockdown não resolve”
Está aí mais uma bobagem que precisa de uma ponderação. É evidente que lockdown sem vacina pode não resolver no longo prazo, mas resolve no curto prazo. E é muito simples de entender: o lockdown serve para conter a circulação de pessoas, reduzindo, consequentemente, a transmissão e a necessidade de internações. Essa é a ideia. Dar uma aliviada nos sistemas de saúde, diminuindo a necessidade por internações. O argumento infantil de que “Portugal e outros países fizeram e não deu certo” não é correto. Evidente que , sem vacina ainda, depois do lockdown, os casos podem voltar a crescer com a retomada das atividades, Mas , no momento posterior (14 dias) das medidas mais restritivas, sempre houve uma queda brusca de casos após lockdown. Por isso Israel, que hoje é o país com maior agilidade na vacinação, passou por três eventos de lockdown. Claro que a medida precisa vir acompanhada de compensação financeira para quem deixa de trabalhar.
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