Santa Catarina deu um exemplo de como um problema sério de saúde coletiva pode ser resolvido quando o poder público percebe a dimensão de sua gravidade, se articula e busca apoio na ciência. No fim do ano de 1979, durante o governo de Jorge Konder Bornhausen (JKB),  houve um surto de poliomielite (paralisia infantil) no planalto norte catarinense. A situação era muito grave com inúmeras internações de crianças. O então secretário de Estado da Saúde, Dr. Valdomiro Colaute, comentou com JKB que “nem trazendo o Sabin” para resolver. A referência era ao médico e pesquisador judeu polonês Albert Sabin, que descobriu a vacina contra à paralisia infantil.

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A lembrança é do decano da medicina em Santa Catarina e primeiro cirurgião pediátrico do Estado, Murilo Capella, então diretor do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), em Florianópolis. Capella fez um emocionante relato do fato ao programa CBN Total da última terça-feira (9).

Ao ouvir a frase de seu secretário da saúde, Bornhausen fez contato com o amigo Oscar Bloch, dono da TV e Revista Manchete, que conhecia Sabin, recém casado com uma brasileira. O contato foi feito e Sabin em menos de 48 horas estava em Santa Catarina.

Chegando aqui, o pesquisador esteve reunido com autoridades médicas e sanitárias locais. Pediu para conhecer onde as crianças estavam internadas. Era o Hospital Nereu Ramos. Conheceram a unidade e, na volta, ele perguntou que prédio era aquele mais abaixo (HIJG). Foi conhecer o local e perguntou porque não atendiam todas as crianças no mesmo hospital. Na época, as crianças com doenças bacterianas eram tratadas no Hospital Infantil, e as doenças virais, no Nereu Ramos. Sabin disse que isso não tinha sentido e que o HIJG poderia atender os dois perfis, desde que houvesse a separação interna. E assim segue até hoje.

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Diante do grave cenário, Bornhausen perguntou ao pesquisador o que deveria ser feito. “Vacinar imediatamente e obrigatoriamente todas as crianças de zero a cinco anos”, respondeu Sabin. JKB perguntou a Sabin se ele estava disposto a coordenar a campanha em Santa Catarina e o médico respondeu, prontamente, que sim.

As secretarias municipais ficaram responsáveis pela identificação das crianças, barreiras nas estradas foram realizadas e o problema foi resolvido.

E isso foi feito em apenas um dia. Houve uma ampla articulação do governo do Estado, prefeituras, Poderes Legislativo e Judiciário e Forças Armadas. “A vacinação em massa em poliomielite nasceu em Santa Catarina”, lembra Capella.

Temos, neste caso, um belo e histórico exemplo de que, quando há liderança política e  articulação governamental com a ciência, tudo fica mais fácil.

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Milhares de crianças foram protegidas em Santa Catarina. Que o resgate desta história e a preservação da memória  sirvam de inspiração para os dias atuais. Estamos precisando.