Um curto-circuito provocado por uma das vítimas foi o que causou o incêndio que atingiu uma das celas do Complexo Penitenciário de Florianópolis em 15 de fevereiro. Segundo o laudo do Corpo de Bombeiros de SC “incêndio teve causa humana direta , subcausa chama direta ou outra fonte de calor, evento causal fagulha agente causal distribuição elétrica, iluminação e congêneres”.
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O documento cita que as análises apontaram que a suspeita é de que uma das vítimas realizaram um ‘curto-circuito’ usando a fiação de uma lâmpada, que estava exposta, com o objetivo de produzir uma chama. Com isso, ela se propagou para o colchão próximo a entrada da cela, que estava no chão, o que iniciou o incêndio.
Além disso, a perícia descartou “a hipótese de incêndio causado por fenômenos naturais, sendo que as
condições climáticas não encontravam-se favoráveis e não houve registros de fenômenos naturais que pudessem ter originado o sinistro, na data do ocorrido, nem foram encontrados quaisquer sinais e/ou vestígios que apontassem para tal fato”, e “a hipótese de incêndio causado por combustão espontânea, sendo que no local da zona de origem não foram encontrados quaisquer vestígios de materiais que pudessem entrar em combustão sem a presença externa de uma fonte de calor”.
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O laudo ainda pontua que a cela onde o fogo ficou confinado tinha apenas uma janela pequena, o que dificultava a troca de gases e facilitou a quantidade de fumaça produzida e diminuição da quantidade de chamas.
“Deste modo, conclui-se que a zona de origem foi a cela 22 da área de segurança máxima,
com um incêndio na fase de crescimento, com restrição de ventilação, gerando muita fumaça devido a combustão incompleta […]. Se um colchão começa a queimar em um ambiente pequeno com pouca ventilação, o processo de queima incompleta pode produzir uma grande quantidade de fumaça tóxica,
incluindo monóxido de carbono, hidrocarbonetos, aldeídos e outros compostos prejudiciais à saúde. Esses gases tóxicos podem se acumular no ambiente, tornando o ar difícil ou impossível de respirar, o que pode levar a sérias consequências, incluindo a morte”.
O fogo provocou a morte de três detentos, que estavam na cela onde tudo começou, e levou 46 pessoas, entre presos e servidores, a hospitais e outras unidades de atendimentos na capital do Estado.
A coluna teve acesso com exclusividade a íntegra do documento:
“CONSIDERAÇÕES FASE INVESTIGATIVA
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Zona de origem:
Antes do início dos exames e da coleta dos depoimentos, foi realizada a inspeção visual do local, a fim de garantir uma visão geral do sinistro e planejar a investigação a ser realizada. Foi constatado na inspeção mencionada que se tratava da ala de segurança máxima da Penitenciária de Florianópolis.
A estrutura da edificação é de alvenaria/concreto armado, com restrição de mobilidade, restrição das saídas de emergência e restrição da ventilação, devido à finalidade da estrutura.
a) Observação da área externa: nesta parte do exame observou-se o perímetro externo, tais
como a porta de acesso e paredes externas, sendo ainda avaliado a propagação e o
alcance da onda de calor.
Constatou-se que o incêndio causou danos leves ao corredor de acesso à cela no qual ocorreu o incêndio, houve somente marcas/manchas de fumaça na área subjacente ao incêndio. Danos estética, não estruturais.
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b) A cela no qual ficou confinado o incêndio possuía somente uma janela com tamanho reduzido, o que dificultava a troca de gases no ambiente, o que facilitou a quantidade de fumaça produzida e a diminuição da quantidade de chamas.
c) Havia somente uma fonte de energia elétrica no quarto, um bocal para lâmpada localizada no teto na área central do ambiente.
d) Sentido de projeção do fogo, propagação do calor e marcas de combustão:
Por ser um ambiente pequeno, havia marcas de fumaça em praticamente toda as paredes. Entretanto, pode-se observar as marcas de maior queima e degradação mais aparentes no chão, perto da entrada da cela.
Pode-se observar que a zona de calor permaneceu perto deste local, pois não foi possível constatar queima nos ambientes mais altos, mais precisamente na parte do beliche inferior e superior. Todavia, foi possível perceber a ação da fumaça e do calor nos objetos.
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e) Não se observou propagação das chamas para os ambientes externos.
f) Tratou-se de um incêndio confinado, em um ambiente com restrição de aberturas/ventilação. Devido à pouca troca de ar, o incêndio ficou restrito à fase de crescimento, não alcançando o ‘flashover’. Cabe destacar as fases de incêndio:
Ignição: é a fase inicial do incêndio, quando as chamas ainda são pequenas e o calor gerado é baixo. A ignição ocorre quando uma mistura combustível de gases é aquecida a temperaturas que desencadearão uma reação de oxidação exotérmica da combustão. Ela pode ser causada por uma variedade de fatores, porém, geralmente, ocorre devido a uma fonte de calor externa, tais quais uma vela, um fogão, ou um curto-circuito.
Crescimento: é a fase em que as chamas crescem em tamanho e intensidade, no qual o fogo se propaga para materiais combustíveis adjacentes. A propagação pode continuar, se materiais combustíveis estiverem próximos da fonte de ignição inicial ou se os equipamentos de extinção e controle do fogo não forem acionados. A taxa de desenvolvimento do incêndio depende da geometria, da combustibilidade e da forma de disposição do material combustível.
Flashover: Fase transitória do desenvolvimento do incêndio em que o compartimento no qual as superfícies expostas à radiação térmica atingem a temperatura de ignição mais ou menos simultaneamente e, se houver oxigênio suficiente, o incêndio se propaga rapidamente através do compartimento resultando em um incêndio generalizado na área. Deste modo, conclui-se que a zona de origem foi a cela 22 da área de segurança máxima, com um incêndio na fase de crescimento, com restrição de ventilação, gerando muita fumaça devido a combustão incompleta.
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Foco inicial:
Analisou-se o sentido de propagação das chamas e as marcas de combustão no intuito de definir o foco inicial. Para tanto, foram analisadas as marcas de combustão na estrutura das paredes, suportes, objetos e teto.
Para chegar a conclusão do foco inicial, foi considerado:
i. O ponto de maior queima no ambiente;
ii. A direção de queima dos objetos;
iii.As marcas deixadas pela fumaça.
Deste, pode-se perceber que o foco inicial foi no colchão que estava no chão do ambiente, próximo a porta de acesso.
Não foi encontrado nenhum tipo de acelerante ou formas de produzir calor no local. Todavia, pode-se perceber que o ambiente estava sem a lâmpada, com os fios de energia retirados do teto com aparência de ter sido realizado um ‘curto-circuito’.
Sendo assim, devido às analises realizadas no local sinistrado, acredita-se que alguma das vítimas realizaram um ‘curto-circuito’ no intuito de produzir uma chama. Deste curto, a chama propagou para o colchão próximo a entrada da cela que se localizava no chão, deste, iniciou-se o incêndio.
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Surgimento e propagação do incêndio:
A taxa de queima no período de crescimento é geralmente controlada pela natureza das superfícies de combustível queimado, enquanto em o período de queima, as temperaturas e o fluxo de calor radiante dentro do ambiente são regidos pela disponibilidade de ventilação.
Desse modo, quanto menor a taxa de ventilação e troca gasosa do ambiente, menor será a temperatura do incêndio. Todavia, quando há um incêndio em um ambiente pequeno com pouca ventilação, a quantidade de oxigênio disponível para alimentar as chamas é limitada, o que pode fazer com que o fogo queime de maneira mais lenta e produza mais fumaça do que em um ambiente maior com melhor ventilação.
Se um colchão começa a queimar em um ambiente pequeno com pouca ventilação, o processo de queima incompleta pode produzir uma grande quantidade de fumaça tóxica, incluindo monóxido de carbono, hidrocarbonetos, aldeídos e outros compostos prejudiciais à saúde. Esses gases tóxicos podem se acumular no ambiente, tornando o ar difícil ou impossível de respirar, o que pode levar a sérias consequências, incluindo a morte.
Exclusão de possiblidades:
Descarta-se a hipótese de incêndio causado por fenômenos naturais, sendo que as condições climáticas não encontravam-se favoráveis e não houve registros de fenômenos naturais que pudessem ter originado o sinistro, na data do ocorrido, nem foram encontrados quaisquer sinais e/ou vestígios que apontassem para tal fato.
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Descarta-se a hipótese de incêndio causado por combustão espontânea, sendo que no local da zona de origem não foram encontrados quaisquer vestígios de materiais que pudessem entrar em combustão sem a presença externa de uma fonte de calor.
Exames complementares:
Não foi realizado exames complementares.
Foram realizadas entrevistas com os agentes e bombeiros militares que trabalharam na ocorrência.
Definição de causa, evento causal e agente causal:
Incêndio causado por um curto circuito na fiação da lâmpada da cela no qual propagou para o colchão.
9 – CONCLUSÃO
De acordo com a investigação realizada, conclui-se que o incêndio teve causa humana direta, subcausa chama direta ou outra fonte de calor, evento causal fagulha e agente causal distribuição elétrica, iluminação e congêneres.
Confira as fotos do local:
*Com contribuição de Luana Amorim, repórter do Diário Catarinense
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