Esses dias, vi o nome da Konami entre os assuntos mais comentados no Twitter e me assustei. Por que ela estava ali? Cliquei e vi que era pela comemoração aos 35 anos de uma das mais famosas séries dos games: Castlevania. E como você acha que a empresa Konami, que tem os direitos da franquia, celebrou esse aniversário?

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Foi com um jogo novo? Uma coleção dos games 3D da série? Uma forma moderna de jogar um título antigo? Nada disso. Ela está vendendo NFTs com imagens, músicas e vídeos da série.

Para mim, é muito difícil entender o que é NFT, mas vou tentar resumir aqui. Pela sigla, é um token não fungível. Vamos fazer uma comparação. Imagine que você comprou o quadro de um artista e pendurou na sua sala. Agora pense em uma arte digital. Neste caso, você não pode segurá-la na mão, né? Então você pode ter um NFT dessa arte, com um certificado para dizer que você a comprou.

Agora vamos a outras questões. A Konami está vendendo um NFT da famosa música “Vampire Killer”, do primeiro Castlevania. Você pode comprar o tal NFT… ou pode ouvi-la no Youtube. Ou no próprio jogo. Para que adquirir o tal NFT então?

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Bem, não vamos desviar do assunto principal deste texto, que é formas que algumas empresas estão encontrando de monetizar os jogos. E essas maneiras estão se popularizando. As microtransações, por exemplo, já são fáceis de encontrar até em games pagos.

Você já jogou o popularíssimo Fortnite? Eu já. Uma coisa que achei estranha no jogo é a falta de customização do meu personagem. Cada hora que eu jogava, a aparência mudava. Daí fui ver que as roupas são vendidas à parte com a moeda usada no jogo. E logo você vai perceber que o game não te dá o suficiente para você conseguir comprar uma skin. Mais fácil então usar dinheiro de verdade para adquirir um item virtual, que existe apenas no jogo.

Personagens de
Imagem do game “Fortnite” (Foto: Epic Games/Divulgação)

Fortnite é um game grátis, então a empresa pode argumentar isso, que precisa ter lucro de alguma forma. Mas e aqueles que não são? Tem um jogo que me divertiu muito, mas tenho muitas críticas a ele, o Assassin’s Creed Odyssey, que se passa na Grécia Antiga. Uma das coisas que achei bem estranha neste game é que o mapa é enorme, mas as tarefas que você faz na sua odisseia são similares. Você vai para outra região e sempre tem as mesmas coisas, um forte grande e um menor, um líder e algum personagem com uma missão secundária. Para que fazer um mapa tão grande se tudo é tão repetitivo?

Loja do game
Loja do game “Assassin’s Creed Odyssey”, com venda de materiais e bônus de experiência (Foto: Reprodução/Assassin’s Creed Odyssey)

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E olha o que o estúdio Ubisoft fez para impedir que você vá a uma área mais cedo no jogo: todas elas têm um nível recomendado. Você começa em Cefalônia no level 1. Se quiser ir até Lesbos, o nível recomendado lá é 42. Ou seja, você vai morrer rapidinho com os inimigos que tem lá. É uma forma de forçar você a seguir a história do jogo e a ter que engajar em combates para poder subir de nível.

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Também é uma forma de vender microtransações na loja do game. Lá, você pode comprar um “bônus de experiência”, para subir de level mais rápido. E não é só isso. Você pode adquirir também vários materiais que são usados no game, como madeira para reforçar o seu navio. E o jogo não faz a menor questão de dizer pra você que o jogador pode ganhar esse item completando certos tipos de missões, que eu acabei não fazendo. Eu não comprei madeira na loja da Ubisoft, mas também não pude reforçar o meu navio. Consequentemente, não fiz missões que envolvessem batalhas náuticas.

Protagonista Kassandra no navio em
Protagonista Kassandra no navio em “Assassin’s Creed Odyssey” (Foto: Reprodução/Assassin’s Creed Odyssey)

Agora vem a parte opinativa: não gosto disso não. Nunca comprei nada em lojas digitais dos jogos, com exceção do conteúdo adicional do Mario Kart 8, do Wii U, que vinha com mais personagens e pistas (a versão do Switch já vem com tudo isso, não se preocupe). É tosco demais colocar microtransações em jogos que já são pagos. E fica muito suspeita a atitude do estúdio, como no caso do Assassin’s Creed Odyssey. Como vamos saber se a Ubisoft não fez o jogo dessa forma para poder vender o “bônus de experiência” na loja?

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> Pensando Sobre Games: trabalhadores da indústria

A discussão sobre a monetização nos games vai longe e é muito mais complexa do que isso. Mas daria dor no coração ver essas práticas se expandindo por toda a indústria. Então torço para que a maioria dos jogadores rejeitem essas tentativas das empresas. Como já falei em outro texto, quem faz um jogo bem feito não precisa recorrer a táticas duvidosas para arrancar dinheiro dos gamers.

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