No meio das notícias da semana, vi que havia jogadores dando nota baixa para o recém-lançado jogo de corrida Gran Turismo 7. Inicialmente, achei estranho, já que ele tinha recebido boas avaliações da crítica, como é de se esperar em um exclusivo. Fui ler mais e descobri que o game tem a sua quota de microtransações.
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Chamou a minha atenção em particular uma frase do diretor do jogo, Kazunori Yamauchi, em um comunicado oficial após o jogo, que é sempre online, ficar mais de 24 horas fora do ar. Ele disse: “Em GT7, gostaria que os usuários aproveitassem muitos carros e corridas mesmo sem microtransações. Ao mesmo tempo, o preço dos carros é um elemento importante, que representa o valor e a raridade deles, então acho importante que ele seja conectado aos preços do mundo real”. Oi?
Videogame é fantasia. Neles, eu posso ser um herói que salva uma terra de um monstro feio que está num castelo. Ou derrotar robôs em forma de dinossauros. Ou ainda ser o treinador de estranhos animais que cabem dentro de uma bolinha.
É claro que Gran Turismo 7 tem uma pegada mais realista. Afinal, ele é um simulador, não dá para jogá-lo como se fosse Mario Kart. Porém, mesmo que o objetivo seja fazer com que o jogador se sinta como se estivesse dirigindo aquele carro, com diferentes automóveis tendo jogabilidades distintas, acredito que a característica principal de qualquer game é que ele seja divertido. Não?
Eu não curto simuladores e faz mais de uma década que o único jogo de corrida que eu compro é o Mario Kart. Porém, acho que quem gosta de carros, de dirigir e aprecia o automobilismo como esporte na vida real gostaria muito de ter a oportunidade de estar cara a cara com os veículos de ponta. Aqueles com a tecnologia mais avançada, mais conforto e outras coisas que eu, como extremamente leiga neste assunto, nem sei que existem.
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Porém, temos uma enorme barreira no mundo real: esses carros são bem caros e acessíveis a uma parcela absolutamente mínima da população. Não interessa o quanto você goste de automóveis, o critério para você ter acesso a eles nada tem a ver com o quanto você aprecia ou entende do assunto.

Uma das formas que o fanático por carros tem para ter contato com essas máquinas é através do videogame. E daí temos aqui um jogo que é vendido como um título para os amantes do automobilismo, mas que quer replicar num game a mesma enorme barreira do mundo real. Que sentido faz isso?
Você pode até dizer que a graça desses jogos mais realistas é começar com um carro mais ou menos e ir ficando bom, ganhando as corridas, para ter os veículos melhores. Até faria sentido, se não fossem as microtransações.

Temos aqui um motivo nefasto. Para conseguir todos os carros do game, o jogador precisa de créditos para comprá-los. Para ter esses créditos, tem duas opções: o famoso, e muitas vezes monótono, grinding, ou adquiri-los com dinheiro de verdade. Agora faz bem mais sentido que o preço do carro seja parecido com o do mundo real, não é mesmo?
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Se você não está familiarizado com o termo grinding nos videogames, eu explico. Pense em um jogo de RPG com níveis. O seu personagem acaba de perder uma batalha. Para tentar de novo, você vai lá e derrota vários inimigos mais fracos, para o seu protagonista subir de nível, e daí tornar a batalha mais fácil. Uma tarefa muitas vezes repetitiva e chata.
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Tem quem ache grinding uma parte do jogo. Eu mesma fiz muito em um game de que gostei muito, o Hyrule Warriors: Age of Calamity, do qual já falei aqui na coluna. No Gran Turismo, o grinding seria correr em várias pistas em que você já foi para conseguir juntar mais créditos e comprar os carros mais caros.
Você pode dizer que isso vai fazer o jogador ficar mais experiente e ser um piloto melhor, correr as pistas em menos tempo. E concordo. Porém, é impossível não pensar que o preço dos carros está atrelado a vender as microtransações.

Esse assunto ainda rende um monte, mas vamos conversando aos pouquinhos. O que acho muito tosco é ter microtransações, até esperadas naqueles jogos grátis, como Fortnite, em um game que já custa R$ 349,90 para o PS5, segundo a loja digital do Playstation.
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Este não é um texto só contra Gran Turismo 7, mas contra essa prática de encher de microtransações jogos que já são pagos. Bora focar na diversão, e não em arrancar ainda mais dinheiro dos jogadores?
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