Toda vez que sai um jogo do estúdio FromSoftware, vem aquele debate. “Nossa, como o game é difícil!”. E tem sempre gente perguntando nos comentários das análises se ele é mais fácil do que alguns dos outros títulos do estilo Souls. Com o Elden Ring, o primeiro jogo do estúdio em mundo aberto, não foi diferente. Já ficou cansativo, né?

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Eu me lembro do Demon’s Souls, primeiro game da FromSoftware no estilo Souls, lá no Playstation 3. Tenho um amigo que tinha e joguei um dia na casa dele. Eu ia, feliz da vida, subindo uma rampa. Antes, havia uma mensagem no chão, como uma mancha de sangue. Dizia “cuidado com a pedra”. Ok. Eu subi a rampa e eis que uma pedra gigante veio rolando na direção do meu personagem, que não sobreviveu ao ataque.

Protagonista encara aranha mecânica em Demon's Souls para PS5
Demon’s Souls tem um remake recente para o PS5 (Foto: Sony Interactive Entertainment/Divulgação)

Meus amigos que gostam do estilo Souls se divertem com essa história. Eu me diverti também. Mas não sei se teria a paciência necessária para chegar ao final de um jogo desses.

Depois do Demon’s Souls, saiu o Dark Souls, que fez muito barulho. Como ele é multiplataforma, alcançou muito mais jogadores do que o antecessor, preso a um único videogame e que não teve o investimento do marketing que outros exclusivos da Sony sempre tiveram.

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Protagonista de Dark Souls 2 olha para fundo de poço
É o fundo do poço mesmo, amigo! (Foto: FromSoftware, Inc/Divulgação)

Foi um rebuliço e logo veio a sequência, Dark Souls 2, também multiplataforma. E daí já começou a fama desses jogos, de que são muito difíceis, nossa!!!

Muitos jogadores se divertem com isso, com o famoso “git gud”, gíria em inglês usada por muitos fãs da série, cujo conselho para quem estiver passando sufoco com o game é “fique bom”. No início, era até engraçado. Porém, depois virou uma frase elitista, dita por algumas pessoas que queriam segregar, ao invés de agregar.

Apesar de os jogos no estilo Souls estarem se tornando cada vez mais populares, vemos uma barreira de acessibilidade aqui. Eles são tão difíceis que não é todo jogador que vai ter o tempo e a paciência necessários para ver o fim desses games. Daí vem a discussão sobre se eles deveriam ter um “modo fácil”. E vou fazer que nem redação de vestibular, mostrando argumentos dos dois lados.

A desenvolvedora dos jogos pensou o design de uma forma. Recentemente, o diretor do Elden Ring, o Hidetaka Miyazaki, disse à revista The New Yorker que gostaria que os jogadores “experimentassem a alegria que vem com a superação de dificuldades”.

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Bem, se o jogo é pensado dessa forma, ter um “modo fácil” destruiria esse conceito e tornaria os games Souls só mais alguns dos muitos títulos de ação e RPG que existem por aí. Deixaria de ser único. E nem todos os jogos precisam ser para todos os públicos.

Eu não curto esse estilo, por exemplo. Não tenho tanto tempo para jogar e acharia muito frustrante perder itens muito importantes ou ter que voltar um longo caminho após a morte do meu personagem no jogo. Além do Demon’s Souls, já joguei um pouco de Dark Souls 2 e Mortal Shell. Este último não é da FromSoftware, mas é no estilo.

Ao mesmo tempo, eu adoro a direção de arte dos games do estúdio. Adoro essa fantasia medieval e os monstros bizarros. Gostaria muito de jogar apenas para me perder nesse mundo. Contudo, também gostaria de jogar Resident Evil e Silent Hill, mas sou péssima em títulos de terror de sobrevivência, então eu simplesmente deixo para lá e vejo vídeos na internet quando estou curiosa.

Dois cavaleiros montados em cavalos em Elden Ring
Só eu acho engraçado que o nome do cavalo em Elden Ring é Torrent? (Foto: FromSoftware Inc./Divulgação)

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Então, estaria resolvido. Não quer passar sufoco? Fuja do estilo Souls. Mas será que é tão simples assim? Você diria o mesmo para um jogador que tenha alguma deficiência? Alguém que não enxergue bem, por exemplo? Alguém cuja coordenação com as mãos não esteja 100%? Alguém que não escuta tão bem? Você diria na cara dessa pessoa que ela deveria “git gud”?

É meio complexo, né? Não sei dizer qual a resposta certa. Digo que quanto mais acessibilidade melhor. E acessibilidade é muito mais do que um “modo fácil”, envolve mudanças no visual, nas cores, por exemplo. É um assunto amplo para outro texto. O The Last of Us II é um jogo com bastante opções de acessibilidade, por exemplo.

Em relação aos jogos no estilo Souls, vou deixar você refletir. Eu acho que quanto mais acessibilidade, melhor. Mas, ao mesmo tempo, acredito que a desenvolvedora deve fazer o game que ela quer e, se a dificuldade faz parte do design, não dá para reclamar muito.

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