A venda para a multinacional canadense CCL, em transação avaliada em R$ 85 milhões, abre uma nova perspectiva de crescimento para a Tecnoblu, avalia o fundador e sócio Cristiano Buerger. Com o suporte de um grupo com atuação global, a empresa blumenauense juntará forças com a Checkpoint, braço de segurança e tecnologia da CCL responsável pela aquisição, com um foco bem definido: tornar-se líder na América do Sul em produtos para identificação (ID) de marcas de moda, como etiquetas, tags e outros acessórios. O objetivo é alcançar esse status dentro de cinco anos.
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Na semana passada, dois dias depois da negociação vir à tona, a Tecnoblu reuniu todo o time na sede de Blumenau para tirar dúvidas. Foi uma conversa franca e aberta, garante Buerger. A empresa não abria mão de manter a marca e a própria identidade, condição que foi essencial para as tratativas com a CCL avançarem. Tanto que os quatro sócios do negócio continuarão no dia a dia da gestão. Os diretores Sergio Pires (Industrial) e Daniel Soppa (Comercial e Marketing) auxiliarão o executivo Luis Jocionis na liderança e Edmur Polli será diretor da CCL Brasil, responsável em promover a integração da Tecnoblu com a Checkpoint junto ao mercado.
Já Buerger passa a atuar como um consultor estratégico da operação, com participação menor na rotina do negócio. Em entrevista à coluna, o empresário e fundador da Tecnoblu traz novos detalhes da venda, o que pesou na decisão e o que é possível esperar da empresa daqui para frente.
O que mais pesou na decisão de vender a Tecnoblu?
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— A gente estava bem resolvido na parte física do ID, mas sabendo que o mundo digital vem crescendo muito rápido. Como a gente quer ser a principal solução em termos de ID para o cliente e as marcas precisam cada vez mais se comunicar com o seu consumidor, teríamos que trazer uma solução maior de comunicação digital, de RFID (identificação por radiofrequência) e conexão. Não tínhamos o know how e a tecnologia, e para desenvolver isso tudo sozinho seria muito investimento. O risco era grande. O grande ciclo de crescimento da Tecnoblu passaria por essa entrada no mundo digital. Foi um ponto que a gente não se sentia confortável, preparado e em condições de fazer isso sozinho.
A venda era o caminho natural para a empresa continuar crescendo de uma maneira mais rápida?
— A gente tinha o CRP (Participações, fundo gaúcho de investimentos dono de uma fatia da Tecnoblu), que entrou no final de 2012 e estava encerrando seu ciclo. Eram três opções. Podíamos recomprar a parte do fundo. Mas como a empresa se valorizou de uma forma bacana desde lá, ficaria caro, ainda mais pela taxa de juros do mercado hoje. Isso inviabilizaria o próprio crescimento da Tecnoblu. A segunda opção seria um novo fundo de privaty equity, maior. Mas não queríamos passar por esse processo, a gente já viveu isso. E a terceira seria se conectar a um grande player mundial. Estávamos preparados para os três caminhos. Até que chegou o momento em que começamos a conhecer melhor o Grupo CCL e a Checkpoint, os valores deles e a forma como eles pensam e trabalham no mundo. Foi como eu te falei, é como um pai que quer que o seu filho case bem. Ficou muito interessante para o processo.
Havia outras propostas na mesa além dessa da CCL/Checkpoint? Quantas eram?
— De novo, a gente estava preparado para a recompra com sócios locais, pessoas próximas e bancos também. Tínhamos o caminho de outros fundos na mesa. E havia três players mundiais com quem estávamos conversando. Até podíamos ter negociado melhor, mas tem muito mais valor o que vai ser a Tecnoblu junto com a CCL/Checkpoint. Têm coisas que não é só o dinheiro.
Quais eram essas outras empresas?
— Eu posso abrir o que está publicado, que é a CCL/Checkpoint. Mas eram dois players mundiais também. Um está entre os três principais da Europa na nossa área e o outro é o maior da Ásia. Mas a CCL é disparada a maior. É um grupo que fatura R$ 26 bilhões como um todo. É um colosso. Só na parte de adesivos eles faturam R$ 15 bilhões e o vice-líder fatura R$ 5 bilhões no mundo.
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Você já adiantou que a marca Tecnoblu e a matriz em Blumenau serão mantidas e a Checkpoint sai de Vinhedo (SP) e vem para cá. O que esperar desta operação local a partir de agora?
— O objetivo é claro: em até cinco anos, a Tecnoblu+Checkpoint quer ser líder na América do Sul em ID para marcas de moda. Esse é o foco central. Vamos crescer muito em Blumenau. E provavelmente vai ter uma aquisição em outra região, em algum lugar que a gente não é muito grande ainda. A CCL já tem fábricas na Argentina e no Chile. E está abrindo na Colômbia. É provável que a Tecnoblu+Checkpoint vai ter fábricas em outros países também, mas isso é mais para frente. Mas a nossa atuação na América do Sul é segura. Além deste foco, o grupo quer, e vamos construir isso juntos, que a operação aqui seja uma referência mundial.
Com base nisso, há alguma previsão de investimento que a CCL deve fazer nessa operação local?
— O valor que o grupo enviou para o Brasil para a Checkpoint fazer a aquisição da Tecnoblu já vem com caixa para investimento. É um grupo muito forte. E isso para nós vai ser muito diferente. A gente nunca teve muito caixa e capacidade de investimento, eles têm muito. O investimento que vai ser feito será para transformar, em cinco anos, na maior fábrica da América do Sul e em um case mundial. Seguramente para software, tecnologia e gente vai ter muito investimento.
Temos visto no mercado um volume crescente de fusões e aquisições. Dentro do setor têxtil local, esse tipo de movimento é pontual ou vai se transformar em tendência?
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— O Brasil tem muita coisa boa. Quando um grupo de fora vem investir em uma empresa brasileira, é muito bacana. Há uma confiança no futuro do mercado. Acho que vai ser natural, e isso não é um pensamento meu, mas de um grupo de pessoas próximas que falam cada vez mais sobre isso, juntar com gente boa, com quem tem mais conhecimento de outras áreas. A partir do momento em que existe alinhamento de valores, de visão de negócios e de visão mercado, eu acredito muito nesse processo. Quando você acerta o passo, ganha muito com isso.
A inovação sempre foi uma marca muito forte da Tecnoblu. Como fica isso a partir de agora juntando com outra empresa?
— A gente teve a honra de receber o presidente mundial da CCL (Geoffrey Martin) aqui um mês atrás. A empresa fez 120 aquisições em mais de 30 países diferentes nos últimos anos. Então você imagina a capacidade. Perguntei para ele qual era o segredo de fazer tanta aquisição e dar certo, porque o grupo continua crescendo todo ano, com rentabilidade maior, é algo impressionante. Ele falou: “olha, a gente é simples”. Disse que valorizam muito a cultura local, que têm pessoas com know how do país à frente e que só fazem negócio com empresas que admiram porque o risco de errar é menor. Essa cultura da inovação da Tecnoblu não é do Cristiano. A Tecnoblu é mais do que o fundador e os diretores. Ela é resultado de todo mundo que faz parte dela. Essa cultura da inovação está intrínseca e cada pessoa que entra aqui traz um pouco mais disso. Quando você coloca isso junto com um grupo tão potente, que tem know how e tecnologia adicionais, com uma presença no mundo muito grande, imagina o que dá para agregar.
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