No dia em que o mapa de Santa Catarina ficou praticamente inteiro tingido de vermelho, com 15 das 16 regiões em risco gravíssimo para o coronavírus, o governo do Estado, de quem se esperava uma postura mais enérgica diante do delicado cenário de pandemia, anunciou um toque de recolher para inglês ver. Por um período de 15 dias, a partir da edição de um decreto que será publicado até o fim desta semana, todas as cidades catarinenses deverão restringir a circulação de pessoas durante a madrugada – a conferir qual é exatamente o conceito de “madrugada” para o comando catarinense.

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O toque de recolher, como expressão, sugere algo duro e com um peso que não condiz com o que prefeitos e Estado estão propondo neste momento para frear o avanço da Covid-19. O vírus não circula apenas à noite. Se a ideia é inibir que pessoas se reúnam em casas e apartamentos fechados, a medida é questionável. Para quem não abre mão dos encontros, bastaria antecipar os horários.

O único efeito prático da restrição é a provável menor circulação de veículos durante a madrugada, período em que acidentes de trânsito são mais frequentes – Blumenau, por exemplo, retomou no início da semana os cinturões noturnos. Mas esta não é uma medida direta para impedir a transmissão do vírus.

Reduzir batidas de carros significa ter menos pacientes traumáticos disputando leitos de UTIs com vítimas da Covid-19. Isso sinaliza que a preocupação maior das autoridades não é limitar o contágio, mas garantir que os acometidos pela doença tenham uma chance de se tratar. É lançar a população à própria sorte.

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No encontro entre o governador Carlos Moisés (PSL) e os prefeitos das 21 maiores cidades catarinenses, reunidos pela Federação dos Municípios (Fecam), também ficou definido que o transporte coletivo será mantido, com ocupação máxima de 70% dos ônibus, que o uso de máscara será obrigatório em ambientes públicos e que os estabelecimentos devem fechar as portas até às 23h, podendo atender clientes até a 0h.

Exceção feita ao toque de recolher da madrugada, o que o Estado está propondo para conter a disseminação do coronavírus já é basicamente regra vigente em Blumenau há mais tempo. Mesmo assim, a cidade contabilizou 9.191 casos de Covid-19 em novembro. Foi o maior número de ocorrências em um único mês no ano, bem acima do pico de julho, quando houve 6.478 notificações. Está claro que apenas isso não é suficiente.

As restrições anunciadas agora dão a entender que o Estado está tentando retomar as rédeas da situação, mas a realidade imposta exige pulso e respostas mais firmes. Tomar essa decisão em conjunto com prefeituras passa a mensagem de que solução foi construída com diálogo, algo que faltou a Moisés em boa parte da gestão da pandemia – e um pecado que quase lhe custou o cargo de governador. Sem afetar a economia e mudando quase nada, convenhamos, é muito mais fácil se chegar a consensos.

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