A apresentação foi recheada de exemplos de iniciativas que ao longo da história recente desafiaram a lógica estabelecida das coisas, e embora muitas das ações mencionadas tenham sido patrocinadas por países de primeiro mundo e grandes companhias globais, a mensagem da palestra de Gil Giardelli na noite de terça-feira em Blumenau é de que o processo de inovação está mais ligado à atitude do que a qualquer outra coisa. O evento foi promovido pela Fundação Fritz Müller.

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Giardelli é um estudioso nas áreas de inovação e economia digital, escritor, colaborador de instituições de ensino e membro da Federação Mundial de Estudos do Futuro. A um público que lotou o palco principal do Teatro Carlos Gomes, cravou que “no século 21, nenhuma ideia deve ser jogada fora”. Mas ressaltou que não se deve medir esforços para tirá-las do papel. Ele trouxe um dado inquietante: de cada 430 pessoas que têm uma ideia, apenas três a colocam em prática.

— Todo mundo quer inovar, mas poucos se arriscam a ser o primeiro — analisou.

Entre estímulos, destacou que as empresas hoje convivem em ambientes muito mais complexos, que é preciso incentivar os jovens a “quebrar as regras” – dentro de limites éticos, claro –, que a inovação tem ainda mais valor se vir acompanhada de uma experiência diferenciada para o consumidor e que as nações mais prósperas são aquelas que investem em tecnologia e inteligência artificial.

Após a apresentação, a coluna bateu um rápido papo com ele.

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Há diversos exemplos de como a inovação pode melhorar a vida das pessoas e resolver desafios complexos da humanidade. Mas você fala em questões éticas envolvendo isso. Existe um limite?

É tudo tão novo que não está dando tempo para fazer essa linha entre o que é ético ou não. E é uma linha muito tênue. Na China, a Universidade de Shenzhen fez a manipulação (genética) de dois bebês. O mundo da ciência já sabe que é muito mais do que isso. São discussões complexas que o mundo não pode evitar.

A palestra mostrou vários casos de inovação ligados a empresas globais, multinacionais. Como mudar essa chave em negócios de menor porte?

Esse foi o grande objetivo da palestra. A inovação tem de começar, tem que ser o primeiro passo. Mesmo que se comece com algo bem pequenininho, precisa ser algo diário. É como escovar os dentes, precisa ser feito todos os dias. E aí aos poucos você vai encontrando o seu caminho.

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Os robôs já estão desempenhando várias funções humanas. O que fazer para não ser substituído por um?

É preciso desenvolver aquelas qualidades que os robôs nunca vão ter, que são as coisas humanas, a empatia, o pensamento crítico… São essas novas qualidades da transdisciplinaridade, do entender o diferente, coisas do lado do cérebro da emoção e do sentimento. Isso é importante para a gente. Os robôs terão essa inteligência para coisas repetitivas e para resolver super-cálculos, mas que não substituem a conversa do dia a dia.

Você diz que não estamos vivendo uma era de mudanças, mas uma mudança de era. O que isso significa?

Se lá atrás tivemos o Renascimento, o Iluminismo e a primeira Revolução Industrial junto com a Revolução Francesa, agora é um novo momento. Esse novo momento nos leva a pensar, por exemplo, se faz sentido falar que somos brasileiros, italianos ou americanos. Se o mundo se globalizou, realmente faz sentido os Estados terem esse poder? Vamos precisar rediscutir tudo: a democracia, a escola, a educação, o trabalho. É o momento de novas formas de trabalhar e repensar a sociedade.