O pedido de demissão de Nelson Teich do Ministério da Saúde, menos de um mês depois de assumir o cargo, acrescenta novo ingrediente ao conturbado ambiente político no Brasil, alimenta incertezas em meio à pandemia e mina ainda mais a confiança do mercado com os rumos de uma economia já combalida pelo novo coronavírus. A saída de Teich, que a exemplo do antecessor, Luiz Henrique Mandetta, foi fritado pelo presidente Jair Bolsonaro por não chancelar o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19, é mais um indicativo de como o governo patina na gestão de uma crise sanitária sem precedentes.

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Essa turbulência tem consequências para a própria economia, que Bolsonaro diz tanto querer preservar ao defender o fim do distanciamento social, mantendo em isolamento apenas os grupos de risco. Apesar de muitos investimentos estarem congelados diante da situação e o aumento do desemprego frear o consumo da população, a falta de unidade política no combate à pandemia, escancarada pelas divergências públicas entre o presidente e governadores e prefeitos, cria um clima de imprevisibilidade que vai além da saúde e que não costuma ser bem recebida pelo mercado.

Na quinta-feira (14), jornais como O Estado de S. Paulo e Valor Econômico destacaram críticas feitas pelo presidente da Mercedes-Benz no Brasil, Philipp Schiemer, sobre a maneira como a a situação está sendo gerenciada. Schiemer disse que a falta de ações coordenadas entre os governos federal, estaduais e municipais vai retardar a retomada da economia e condenou a constante troca de ministros em um “momento de guerra”. É uma avaliação consensual entre empresários que não integram a ala mais radical do bolsonarismo, aquela que diz amém a tudo o que presidente pensa ou faz. Teich pediu para sair no dia seguinte. Que segurança um investidor tem para injetar dinheiro em um ambiente tão incerto? Que credibilidade o governo transmite ao seu povo e ao mundo?

É de se esperar que a troca no comando do Ministério da Saúde represente mudanças significativas nas ações de enfrentamento à Covid-19, possivelmente com mais ênfase na economia — em um momento em que as mortes diárias pela doença não param de crescer —, buscando validar um discurso do presidente que não encontra eco entre a maior parte dos especialistas da área da saúde. A discussão sobre a reabertura é delicada e necessária, mas precisa estar sustentada em estudos, projeções e evidências baseadas na ciência, preservando a vida, não apenas o balanço financeiro das empresas.

O Brasil continuará sendo um mercado atrativo porque, via de regra, é carente de infraestrutura básica nas mais diversas áreas, o que abre caminho para investimentos volumosos, além de ter um imenso potencial consumidor com uma das maiores populações do mundo. Mas seguirá com a pecha de eterno país do futuro enquanto vaidades e projetos pessoais se sobrepuserem aos interesses coletivos.

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