Primeira mulher eleita para comandar a Furb, a professora e arquiteta Márcia Sardá Espíndola esteve recentemente em Brasília com o atual reitor, João Natel, para discutir com o Ministério da Educação (MEC) um novo modelo de financiamento para a universidade blumenauense. Por enquanto o governo federal ainda faz estudos. Se as tratativas avançarem como ela imagina, até 49% da receita da instituição poderia vir da União.
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Seria um aporte importante para a Furb, cuja situação financeira, como é sabido, não é das melhores. Com 7,6 mil alunos, 1,4 mil servidores e orçamento na casa dos R$ 200 milhões, o quadro atual aponta um déficit de R$ 25 milhões em 2019, mas a futura reitora aposta em uma redução dessa quantia diante de um cenário de aumento de matrículas e novos cursos de pós-graduação que serão lançados no primeiro semestre do ano que vem.
Nesta entrevista, concedida ao blog na última sexta-feira, Márcia fala sobre o processo de transição e aborda questões como espaços ociosos dentro da universidade, ensino a distância e Centro de Inovação. Confira:
Como está o processo de transição?
Nós montamos um grupo de transição, tanto a gestão atual quanto a nossa, futura, baseado nas pró-reitorias. Já foram convidadas as pessoas que vão assumi-las e os chefes de divisão. Eles já estão fazendo a transição junto aos setores e tendo o entendimento dos dados, e até sendo convidados para algumas decisões que vão impactar no próximo ano.
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O relacionamento com a atual gestão está tranquilo?
Está tranquilo, não temos nenhum problema. Estamos tendo acesso a todos os dados.
Recentemente a senhora e o professor João Natel (atual reitor) estiveram em Brasília, mais de uma vez, para discutir um novo modelo de financiamento federal para a Furb. Como ele funcionaria?
Fomos (a Brasília) duas vezes. A primeira foi mais para tratar da questão da TV Furb. Foi sinalizada a implantação do Centro Nacional de Mídias aqui. Veio uma equipe do MEC (Ministério da Educação) há duas semanas verificar as instalações da Furb. Eles ficaram muito bem impressionados com o que nós temos de laboratórios. Este trâmite está já bem avançado dentro do MEC e eu acredito que nós vamos ter o Centro Nacional de Mídias aqui do Sul dentro da Furb. A segunda questão era a busca de financiamento estudantil. A Furb é pública de direito, mas de fato seria se tivéssemos o financiamento estudantil. Essas idas foram para eles tirarem dúvidas, junto ao jurídico do MEC, da estrutura da Furb e de seu estatuto. Como ela (Furb) foi fundada antes de 1988, é possível a cobrança de mensalidade sendo pública. Estamos vendo uma viabilidade de financiamento público federal para os nossos estudantes, ainda com a cobrança de mensalidade. Poderíamos ter até 49% da nossa receita vinda do governo federal. Isso faria com que nós pudéssemos diminuir a nossa mensalidade e financiar algumas áreas. Eles (MEC) estão estudando uma proposta e ficaram de nos enviar até hoje (a entrevista foi feita na última sexta-feira, mas até o momento da publicação a resposta ainda não havia chego).
Há muitas especulações sobre o que pode ser feito com os espaços ociosos dentro da universidade. O que é mais provável que aconteça?
A UFSC já nos procurou, mas quer conversar conosco a partir do próximo ano, quando assumirmos, a partir de 31 de janeiro. O que nós queremos, com essa proposta do MEC, é que não tenhamos mais esses espaços ociosos. Mas se tiver essa possibilidade de parceria com a UFSC, estaremos abertos ao diálogo, só que ficamos de conversar a partir do próximo ano.
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Alguma outra possibilidade além da UFSC?
Estamos trabalhando forte também nos cursos de pós-graduação latu sensu. Estamos montando uma carta de 30 a 40 cursos que devem iniciar já no primeiro semestre, cursos também de curta duração para qualificação dos nossos egressos e a ocupação também da Etevi com ensino médio integral, trabalhando dentro das nossas diversas áreas, onde vão ser ofertados para os alunos qualificação na área que eles escolherem. Eles poderão ocupar esses espaços nos laboratórios. As graduações vão ofertar um curso extra para a Etevi no período da tarde.
Em que situação financeira a senhora e a sua equipe receberão a universidade?
Ela vai estar com déficit. Mas vai depender muito também do número de alunos matriculados. É algo que conseguimos solucionar, mas não vamos receber com superávit. Já está melhor (o cenário de novas matrículas para 2019) do que foi em 2018. Temos muita esperança que isso se resolva. Também já tivemos da gestão atual, nos últimos Consuni (reuniões do Conselho Universitário), o corte de servidores de caráter temporário. Isso também já vai reduzir a folha significativamente.
De quanto seria esse déficit?
Se fosse mantido como está hoje, com redução do número de alunos e o número de servidores que tínhamos, poderia chegar a R$ 25 milhões no final do ano (em 2019). Mas como estamos aumentando o número de alunos e reduzindo o quadro, então isso vai ser bem menor. Essa é a previsão que nós temos. Talvez com essa notícia agora do MEC podemos aumentar significativamente o número de alunos e daí ter essa redução. Porque nós fizemos o estudo em cima do número de alunos que temos hoje.
Esse financiamento federal que pode vir seria a única maneira de zerar o déficit em 2019?
Não. Como eu te falei, há esse (expectativa) aumento do número de alunos. Também vamos atrás de estudantes que trancaram mensalidades e renegociar. Aos alunos que estão inadimplentes, ver uma forma de parcelamento. Vamos investir bastante na pós-graduação latu sensu e em cursos de curta duração. Então nós temos várias frentes de novas receitas que vão diminuir esse déficit.
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O ensino a distância ganhou muito espaço nos últimos anos. A Furb tem algum plano para essa modalidade?
O ensino a distância é uma modalidade importante. Vamos trabalhar forte (nessa área), está se montando uma equipe qualificada para isso. A Furb tem como diferencial o ensino presencial qualificado. Isso continuará sendo a nossa principal oferta. Mas o ensino a distância é uma modalidade que temos que inserir também. Hoje já temos vários cursos que têm 20% da sua carga horária a distância. Queremos trabalhar os projetos de cursos dentro dessa modalidade. Alguns cursos podem ter um percentual maior (de EaD), outros não.
O Centro de Inovação, ao que tudo indica, deve ficar pronto ainda no primeiro trimestre do ano que vem. Qual será o papel da Furb dentro da estrutura?
Ele está dentro do campus 2, que é o nosso centro tecnológico. A Furb tem uma participação dentro do (Instituto) Gene, que provavelmente vai ser o gestor do Centro de Inovação. Dá um diferencial para os nossos alunos estarem próximos, mas o Centro de Inovação não pertence só à Furb, vai pertencer à toda comunidade. Estamos trabalhando bastante essa questão do Distrito de Inovação e de que maneira nós, como academia, podemos participar nessa integração mais forte. O modelo que estamos tratando, que coloca o Centro de Inovação mais próximo à academia e às empresas, talvez seja o melhor de Santa Catarina. Queremos trabalhar forte nisso, mas a gestão dele não será da Furb. Será, provavelmente, do Gene.
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O que esperar da universidade regional para os próximos anos, a partir dessas mudanças que serão implementadas em 2019?
Nós queremos uma nova Furb, uma Furb bastante ligada à inovação, por todo esse contexto do Centro de Inovação e desse nosso aluno que busca esse diferencial. Trabalhar forte na qualificação dos nossos egressos e alunos, buscando novas formas de ensino. Integrar mais o acolhimento do nosso estudante, aqui dentro da universidade e também na comunidade, com suas demandas, para que a Furb possa dar respostas. Temos uma missão grande com a curricularização da extensão. Todos os cursos têm que trabalhar isso dentro dos seus projetos pedagógicos. É trazer o problema da comunidade para dentro da universidade. Há vários projetos nessa linha, de criar essa nova Furb, essa nova relação com a inovação e a internacionalização. Estamos montando uma equipe muito boa e com muitas propostas interessantes para o próximo ano.