Triplicado em tamanho após passar por uma ampla reforma que custou R$ 61,7 milhões, o novo terminal de passageiros do Aeroporto de Navegantes, oficialmente entregue pela Infraero nesta segunda-feira (24), praticamente inviabiliza um desejo antigo de Blumenau: voos comerciais recorrentes partindo do Aeroporto Quero-Quero em direção a grandes centros, como São Paulo.
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O remodelado terminal da cidade litorânea, agora com 13,6 mil metros quadrados, sala de embarque cinco vezes maior e área ampliada de check-in – além de todas as outras melhorias na infraestrutura (veja no vídeo abaixo divulgado pela Infraero) –, reafirma a condição de Navegantes de principal ponto de conexão aérea da região do Vale com o restante do Brasil e outros países. E faz refletir novamente sobre a necessidade há tempos tão ventilada de Blumenau ter estrutura semelhante um dia.
A reativação de rotas comerciais no Quero-Quero é uma bandeira histórica de lideranças empresariais e políticas locais. Diversas reuniões e audiências públicas já trataram do assunto em um passado não muito distante. A divulgação, em 2015, de uma pesquisa feita pela Secretaria de Aviação Civil (SAC) que apontou que Blumenau tinha potencial para ter um voo comercial diário para São Paulo, com movimentação anual de 133 mil passageiros, reavivou a discussão. Em 2018, um novo projeto foi apresentado. Mas o debate pouco evoluiu desde então.
No meio empresarial o tema divide opiniões. Há quem acredite que Blumenau está bem servida com o Aeroporto de Navegantes, principalmente com o avanço da duplicação da BR-470 no trecho entre a cidade e o Litoral Norte, que diminuirá ainda mais o tempo de uma viagem que já é curta – cerca de 55 quilômetros, menos de uma hora sem filas. Outros defendem que a cidade não deve abrir mão do desejo de ter voos comerciais e que há demanda de sobra para isso – ao menos para voos menores, regionais.
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Dentro da prefeitura, que (ainda) administra o Quero-Quero, o foco de atenção quando se fala no aeroporto municipal é outro. Por ora, voos comerciais não estão no radar da atual gestão. No momento os esforços se concentram nos projetos de cercamento e balizamento noturno do aeroporto – hoje, sem esse sistema de iluminação, pousos e decolagens só ocorrem durante o dia. Há recursos para isso garantidos pelo governo do Estado.
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Adaptar a estrutura para receber aeronaves de maior porte, capazes de transportar mais passageiros, exigiria um investimento milionário e inviável para o poder público, com grandes impactos na mobilidade urbana e na vegetação do entorno. A saída possível seria a concessão do Quero-Quero, algo que deve acontecer depois que essas obras pendentes saírem do papel. Caberia então a um investidor disposto a fazer acontecer a análise da viabilidade operacional e financeira do negócio.
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A maior parte das fontes ouvidas pela coluna sobre este assunto, do setor público e da iniciativa privada, entende que o Quero-Quero tem vocações claras: formação de pilotos e comissários de bordo, um trabalho atualmente desenvolvido pelo Aeroclube de Blumenau, aviação executiva e base operacional para aeronaves utilizadas em operações de salvamento e transplante de órgãos. Cabe à cidade definir de uma vez por todas se isso é suficiente.
Sob a gestão da iniciativa privada, o Aeroporto de Navegantes teria, segundo essas fontes, condições de suprir a demanda que parte de Blumenau. Por outro lado, o edital de concessão da estrutura retirou do futuro dono, a concessionária CCR, a obrigatoriedade da construção de uma nova pista que permitiria a operação de mais aeronaves, algo previsto no plano diretor há 20 anos. É uma situação que lança dúvidas sobre a capacidade de crescimento do terminal do Litoral Norte no longo prazo. E que, de certa maneira, ajuda a manter vivo o sonho de um aeroporto comercial em solo blumenauense.
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