Toda eleição pode consagrar ou arruinar quem se lança como alternativa à população nas urnas. A atípica disputa de 2020, marcada por uma pandemia e pela pulverização de candidaturas, potencializou esse cenário. Apostas de alto risco, afinal, são muito bem recompensadas quando as coisas dão certo. Por outro lado, podem render enorme prejuízo se tudo não sair como o planejado.

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Se ainda havia dúvidas a respeito, Mario Hildebrandt (Podemos) tratou – fadiga da população à parte – de consolidar o capital político e ganhar musculatura com uma expressiva votação no primeiro turno. Tem a seu favor, agora, a exposição como prefeito e se vê diante de um adversário com maior rejeição entre boa parte do eleitorado, que não se esqueceu da Operação Tapete Negro. Com 42,53% dos votos válidos, só uma hecatombe o tira do terceiro andar da prefeitura a partir de 2021, embora reviravoltas inesperadas nunca podem ser descartadas em Blumenau.

Colocado em xeque na reta final de campanha pela ascensão do Novo de Odair Tramontin, o passaporte de João Paulo Kleinübing (DEM) para o segundo turno livrou o ex-prefeito do constrangimento de ter ficado pelo caminho antes da hora. Ele agora terá duas semanas para convencer o blumenauense de que merece uma nova chance no Executivo municipal e, mais do que isso, mostrar por que é diferente de Hildebrandt. 

Além do prazo curto, a tarefa é particularmente árdua porque ambos têm perfil semelhante, já trabalharam juntos e orbitam em torno do mesmo espectro político. Com Hildebrandt jogando com o regulamento embaixo do braço, Kleinübing tem pouco a perder de agora em diante. A ele parece restar um papel pouco usual na sua carreira política, o de franco atirador, condição esta experimentada por Tramontin.

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O Novo, aliás, sai fortalecido das urnas. Viu a vaga no segundo turno escapar pelos dedos, mas ficou com duas cadeiras no Legislativo, número suficiente para garantir a maior bancada, ao lado do Podemos, em uma Casa que será marcada pela diversidade de siglas em 2021. Pelo discurso adotado, acostumem-se Emmanuel Tuca de Santos e Diego Nasato – que ainda pode perder a cadeira para o PSDB -, o partido terá vigilância e cobrança maiores do que legendas e nomes mais tradicionais.

Na ala eleitoral mais conservadora, Ricardo Alba (PSL) terá de assimilar o golpe. Os 17.487 votos a prefeito conquistados neste domingo (15) não representam nem metade dos 36.373 recebidos só de blumenauenses há dois anos na campanha que o alçou ao posto de deputado estadual mais votado de Santa Catarina, surfando na onda bolsonarista. 

Da mesma forma, Ivan Naatz (PL), recordista em candidaturas à prefeitura, viu o apoio das urnas encolher na quarta tentativa: foram somente 7.227 votos, muito abaixo dos resultados alcançados em 2016 (16.652) e 2008 (13.644). A ambos ao menos resta a visibilidade proporcionada pela Assembleia Legislativa, o que para Blumenau significa a manutenção das atuais três cadeiras no Parlamento catarinense.

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Na outra ponta, as urnas mostraram mais uma vez a resistência do blumenauense à esquerda. Nome mais conhecido neste espectro político na disputa deste ano, Ana Paula Lima (PT) fez 8.359 votos, número menor do que o alcançado pelo correligionário Valmor Schiochet (8.911) quatro anos atrás. 

As quatro siglas de esquerda – acrescente ao PT o PDT, o PSOL e o PC do B – da campanha de 2020, aliás, somaram somente 16.887 votos, o equivalente a 10,53%, queda expressiva em relação aos 20,14% acumulados em 2016. É um campo político que precisará se reorganizar para reverter a constante perda de espaço entre o eleitorado municipal.

Oposicionistas em destaque

Na Câmara, cinco dos atuais 13 vereadores que buscaram a reeleição ficaram pelo caminho – número que pode subir para seis se Guto Reinert (Podemos) reverter no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a impugnação da candidatura, o que tiraria Marcelo Lanzarin da próxima legislatura. 

Entre os reeleitos, quatro são abertamente oposição à atual gestão: Bruno Cunha (Cidadania), Professor Gilson (Patriota), Ito de Souza (PL) e Adriano Pereira (PT). A julgar pelas semelhanças entre Hildebrandt e Kleinübing, tudo indica que eles assim permaneçam, ou pelo menos se apresentem como independentes, qualquer que seja o resultado do segundo turno para a prefeitura.

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O saudável e necessário contraditório em um Legislativo amplamente controlado pelo Executivo nos últimos anos ajudou a garantir visibilidade ao quarteto, principalmente em pautas polêmicas em que a prefeitura tentou atropelar o debate com projetos que tramitaram em regime urgentíssimo. Cunha e Gilson, inclusive, foram os dois vereadores mais votados e emergem como novas e jovens lideranças políticas. Contrapondo aliados do governo que fracassaram nas urnas, mostram que a bênção incondicional a tudo que vem de cima pode ser mal vista pelo eleitor.

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